Dom Edson de Castro Homem
Bispo Emérito de Iguatu
Em agosto, mês vocacional, a Igreja no Brasil nos estimula a refletir sobre o significado da vocação religiosa para a vida e a missão eclesiais. Antes de tudo, o fundamento da vocação religiosa é o seguimento do Cristo pobre, obediente e casto. Desde os tempos apostólicos, existiram homens e mulheres, especialmente virgens e viúvas, que escolheram viver em comunidade os conselhos evangélicos da pobreza, da obediência e da castidade.
Os religiosos (as) participam da dimensão profética e carismática da Igreja de acordo com o carisma fundacional de um Fundador (a), dom cujas raízes estão no batismo. Estão a serviço do Reino de Deus e da santificação de seus membros, a favor da missão da Igreja e da salvação dos homens e mulheres que vivem no mundo.
A comunidade dos Atos dos Apóstolos, descrita como tendo “um só coração e uma só alma na qual ninguém considerava exclusivo o que possuía, mas tudo entre eles era comum” (4, 32) é o modelo para organizar a vida religiosa em qualquer tempo. Serve de meta a ser realizada, ainda que nunca alcançada de modo pleno; por isso, os religiosos sempre procuram retornar às fontes da origem do próprio carisma por fidelidade ao Reino, abertos ao futuro de Deus.
Os religiosos (as) convivem em uma mesma família sob uma Regra de vida que favorece à organização, à justiça e ao amor, estreitando os laços comunitários, a partilha de bens, o trabalho comum, a oração litúrgica, sobretudo, a celebração da Eucaristia, vínculo de unidade.
A Igreja no Brasil ao estimular no mês de agosto uma semana para pensar, refletir e tornar conhecida a diversidade da Vocação e Vida Religiosa, procura observar o que diz o Concílio Vaticano II: “Envidem os sacerdotes e educadores cristãos sérios esforços, para que se dê às vocações religiosas, acertada e cuidadosamente selecionadas, novo incremento que corresponda inteiramente às necessidades da Igreja”. (Perfectae Caritatis, 24). Estimula que na pregação se trate “dos conselhos evangélicos e da vocação para o estado religioso”. (idem).
O Concílio recomendou aos pais que ao educarem seus filhos e filhas, “cultivem e protejam em seus corações a vocação religiosa” (ibidem). Ainda que Deus possa chamar de qualquer meio familiar e em qualquer circunstância, é mais natural que as famílias verdadeiramente católicas sejam celeiros privilegiados de vida religiosa. Assim se espera.
Na história da Igreja, há muitos exemplos ou estímulos dados por famílias que expressam alegria se Deus lhes agraciasse com uma filha monja, freira, irmã, leiga consagrada ou com um filho: monge, frade, padre, irmão leigo. Esta variada nomenclatura aponta para a riqueza de expressões da vida consagrada e sua vinculação aos diversos períodos da história da Igreja.
Os pais, reconhecidamente santos, de Santa Terezinha foram o impulso da graça para que suas filhas escolhessem a vida religiosa do Carmelo. O fato comprova a relação entre a família cristã e a vida religiosa de tal maneira que a queda na procura da vida consagrada está ligada tanto à crise contemporânea da instituição familiar quanto à secularização da sociedade.
O Concílio também abordou a liceidade dos Institutos divulgarem o conhecimento do que são e do que fazem. Trata-se da promoção vocacional. A melhor promoção é a vida coerente dos religiosos (as). Enfim, não se pode dispensar a oração perseverante e confiante ao Senhor da messe que chama e dá condições para que os consagrados (as) vivam alegres e realizados.
Imagem: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/583806-vida-religiosa-em-processo-de-transformacao-e-transformadora