SOLIDARIEDADE CRISTÃ (E POLÍTICA)

Em tempo de pandemia, a solidariedade cristã (também política) une, como disse Bento XVI, a “caridade na verdade e a verdade na caridade” (In.: Caritas in Veritate). Ambas se expressam na realização do culto a Deus e no bem dado ou feito às pessoas. Em tempo de pandemia, convém se recordar disto, especialmente, ao bem que se faz.

A Igreja Católica expressou seu apoio à verdade da ciência e da medicina na coragem de fechar suas igrejas. Seria tentar a Deus e prejudicar o próximo se escolhesse a desobediência civil em nome da fé, desligada da razão e das obras do amor.

A verdade do culto, que visa a expressar o amor a Deus sobre todas as coisas, pode ser realizado, segundo Jesus, “em espírito e verdade” (Jo 4,24). Não existe, portanto, problema de lugar e de tempo, em termos absolutos. Só relativos. O essencial é que haja desejo que se torna vontade sincera ou verdadeira de orar ou de conversar ou de prestar culto a Deus. Aliás, a simples presença no “lugar” oficial do culto não significa, necessariamente, a expressão verdadeira da oração. Haja vista a parábola do fariseu e do publicano que subiram ao Templo para orar e, no entanto, somente um saiu justificado ou agradou a Deus (Lc 18,9-14). Não basta, pois, dizer: Senhor! Senhor! (cf. Mt 7,21)

No caso excepcional do confinamento em casa e sendo possível assistir a Liturgia e até de comungar espiritualmente, com a ajuda da Internet, vivenciamos outros aspectos da nossa fé, agora relembrados: a vivência da Igreja doméstica; a oração em família a expressar o que disse Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Podemos, igualmente, valorizar a oração particular ou pessoal: “entra no teu quarto e fecha a porta” (Mt 6,6). Quem sabe: medita!

São Paulo aponta para encontros em casa, ao dizer: “A Palavra de Cristo habite em vós ricamente; com toda a sabedoria ensinai e admoestai-vos…; em ação de graças a Deus, entoem vossos corações salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3,16). A propósito, existem textos elaborados, inclusive da Campanha da Fraternidade 2020, que podem favorecer a reunião familiar de oração e a leitura orante da Bíblia. Sempre acessível ao católico é a recitação do rosário meditado pelo qual contemplamos os mistérios da vida de Cristo sob o olhar de Maria, como nos lembrou São João Paulo II.

Existe a verdade na solidariedade das ações sócio e caritativas, imprescindíveis. Aliás, o impacto da pandemia tem produzido várias iniciativas para as quais a mídia chama nossa atenção, desde a distribuição de alimentos até a confecção de máscaras para serem doadas. Menos no Brasil e mais no exterior, empresas, empresários, artistas e atletas doam quantias significativas para políticas públicas, ligadas à saúde e à pesquisa.

A definição idealizada da política profissional como “expressão mais alta da caridade”, conforme a Doutrina Social da Igreja, se concretiza, neste momento crítico, no governante que for estadista de verdade. Não será, por ora, adepto da politicagem e do populismo. Há de superar seu viés ideológico. Será capaz de autocrítica. Permanecerá na verdade dos fatos e dos feitos coerentes com os argumentos e as exigências.

Precisamos da solidariedade e da “ética comunicativa” no campo conflitante da política em prol de consenso nas decisões. Enfim, a Nação muito espera de seus líderes para que salvaguardem a vida da sua população. Queira Deus que sejam dignos do Brasil sofrido!