“Obrigado, Dom de Deus! ”: fiéis e família franciscana se despedem de Dom Frei Geraldo

Texto colaborativo: Jornalista Ingrid Monteiro e Mychelle Santos

 

O silêncio no Santuário São Francisco das Chagas, em Juazeiro do Norte-CE, cedeu espaço ao louvor e as homenagens entoadas ao Dom Frei Geraldo Nascimento, OFMCap., durante a Missa de Exéquias, na manhã desta terça-feira, 08 de novembro. Predida pelo bispo da Diocese de Crato – e também Frade, Dom Magnus Henrique Lopes, OFMCap, sendo concelebrada pelo Frei Roberildo Araújo, Ministro Provincial do Ceará e Piauí, juntamente com demais confrades e presbíteros. Religiosas, diáconos, seminaristas, familiares e fiéis que lotaram o santuário, também se fizam presentes na despedida daquele que deixa a todos um legado de simplicidade, humildade e confiança no Evangelho de Jesus Cristo.

 

 

A Celebração das Exéquias com o corpo presente do bispo auxiliar emérito da Arquidiocese de Fortaleza-CE, encerrou a programação fúnebre iniciada no dia anterior, após o anúncio de seu falecimento no último domingo (06), aos 86 anos, devido a uma grave infecção pulmonar. “Hoje, no claustro sagrado do convento dos filhos de São Francisco, os sinos repicam porque temos mais um santo no céu, chora-se, canta-se, louva-se e faz silencio na alma que contempla o corpo inerte de quem nunca se cansou de fazer o bem. Dorme em paz, dom Geraldo, o sono dos justos”, declarou Dom Magnus Henrique.

Nas palavras dos frades presentes que conviveram com Dom Frei Geraldo, o capuchinho foi exemplo de despojamento, pobreza franciscana, obediência, um amigo e conselheiro. “Ele soube vivenciar com simplicidade todas as etapas formativas, mas também com profundidade intelectual. Quando foi ordenado sacerdote, permaneceu sendo sempre um irmão, como a vocação franciscana chama a ser todo frade. Quando nomeado ao episcopado, do mesmo jeito. Esse é o grande legado que Dom Frei Geraldo nos dá: a simplicidade franciscana é possível de vivenciar no mundo, não como um peso, mas de modo feliz, pois ele foi sempre um homem da alegria e da felicidade, a alegria franciscana, a perfeita alegria”, enfatizou Frei Roberildo.

Durante a homilia, Frei Edmilson Vieira, da Fraternidade de Sobral-CE, pontuou sobre os importantes momentos na vida do religioso, que vivenciou concretamente o exemplo de vida deixado por São Francisco, no seguimento a Jesus Cristo e o Seu Evangelho. “Eis, pois, o exemplo da vida de um filho de Deus que vivenciou as três virtudes e que se constitui para nós um exemplo para levarmos à frente a sua mensagem, o seu testemunho, aguardando a sua intercessão, para melhor amarmos e servirmos a Deus. O testemunho de Dom Geraldo, como homem simples, dedicado, humilde, não se apaga dos nossos olhos! Descansa em paz! ”, afirmou o frade que foi aluno de Dom Frei Geraldo, no Seminário Menor na capital cearense.

Rito das Exéquias  

Nas exéquias de um bispo ou padre, o caixão é colocado no chão como sinal do despojamento sobre tudo e entrega plena da vida a serviço da Igreja. Ao final da celebração, seguiu-se o rito exequial. Com água benta, aspergem o féretro, seguindo da incensação do féretro. A água recorda o Batismo que tornou Dom Frei Geraldo Filho de Deus, irmão de Cristo, membro da Igreja. O uso do incenso, por sua vez. indica as orações de todo a Igreja que estão sendo elevadas até Deus.

Por ser um frade que sempre acolhida com alegria todos os fiéis romeiros, a cerimônia das exéquias contou ainda com um momento de singela tradição romeira. A família franciscana conduziu o corpo do irmão confrade pela chamada “Praça das Almas”, em torno da imagem do padroeiro São Francisco, assim como os romeiros costumam realizar ao chegar no Santuário. O cortejo fúnebre encerrou-se no interior da matriz, para o sepultamento, acompanhado de uma multidão de fiéis que trazia nas lágrimas o mais sincero agradecimento pela paternidade espiritual do frade capuchinho.

 

Vida marcada pelo serviço a Deus

Geraldo do Nascimento nasceu em Senador Pompeu-CE, no dia 18 de maio de 1936. Após estudar no colégio Salesiano em Baturité e no colégio Cearense Marista em Fortaleza, foi acolhido como postulante. Em 1959, iniciou o ano de Noviciado em Guaramiranga-CE, onde emitiu os primeiros votos no dia 28 de dezembro de 1960. Estudou Filosofia e Teologia em Parnaíba e Fortaleza. No dia 28 de março de 1963, fez a profissão perpétua na Ordem Capuchinha.

Foi ordenado Sacerdote no dia 29 de junho de1967, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, por Dom José Medeiros Delgado, Arcebispo de Fortaleza. Após a ordenação, por pouco tempo ficou prestando serviços na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus para, em seguida, assumir o múnus de Formador (Messejana 1968) e como diretor e professor de Filosofia em Guaramiranga (1969).

No ano de 1970, fez o curso de Franciscanismo (CEFEPAL) em Petrópolis–RJ. Ao retornar à Vice Província assumiu a função de Diretor os estudantes (Pós-noviços). Em 1976, foi eleito Vice Provincial, cargo que exerceu por 06 anos (1976-1981).

No dia 15 de setembro de 1982, foi escolhido bispo auxiliar de Fortaleza e recebeu a Ordenação Episcopal no dia 22 de dezembro de 1982, na Catedral Metropolitana de Fortaleza, sendo o Bispo Sagrante o cardeal Aloísio Lorscheider. Como bispo auxiliar, exerceu diversas funções na Arquidiocese de Fortaleza, sendo referência para os religiosos, coordenador das pastorais sociais, responsável por uma região episcopal e nomeado Administrador Apostólico da Arquidiocese de Fortaleza.

No ano de 1997, por problemas de saúde, renunciou a função de bispo auxiliar de Fortaleza e voltou para o convento, passando a residir na residência Missionária em Lagoa de São Francisco-PI. Desde então, sempre disponível como frade missionário, residiu em Juazeiro do Norte, Uruçuí, Parnaíba, Sobral, Lagoa de São Francisco e Bom Conselho-PE.

Atualmente, Dom Frei Geraldo era membro da fraternidade capuchinha de Juazeiro do Norte, exercendo a função de confessor no Santuário São Francisco das Chagas, levando a todos o testemunho franciscano de simplicidade e espírito missionário.