O arcebispo emérito de Brasília (DF), cardeal José Freire Falcão, internado desde o dia 17 de setembro, como medida preventiva, após testado positivo para o COVID-19, faleceu na noite deste domingo (26). O cardeal completaria 96 anos em 23 de outubro.
Internado no hospital Santa Lúcia, em Brasília (DF), dom Falcão teve uma piora em seu quadro de saúde na madrugada do dia 24 de setembro, com complicações respiratórias e renais, sendo necessária uma entubação para dar um conforto maior à sua respiração.
Em nota divulgada ontem, dia 26 de setembro, a arquidiocese de Brasília expressou que sua ausência é sentida por amigos e fiéis pela marca indelével que ele deixou nas numerosas obras pastorais que ensejou durante os vinte anos que governou a Igreja Particular.
Desde o início da pandemia Covid-19 até hoje, 20 cardeais foram infectados em todo o mundo, incluindo o cardeal Freire, que é o segundo brasileiro contaminado pelo vírus. O primeiro cardeal brasileiro contaminado pela covid-19, foi dom Eusébio Oscar Scheid, que faleceu em janeiro de 2021.
Biografia e trajetória de dom José Freire Falcão
José Freire Falcão nasceu em Ereré, no município de Pereiro (CE), em 23 de outubro de 1925, filho de Otávio Freire de Andrade e de Maria Falcão Freire.
Aos onze anos, concluiu, na cidade de Russas (CE), o quarto ano primário. Em 1938 ingressou no seminário da Prainha, em Fortaleza, ordenando-se padre na cidade de Limoeiro do Norte (CE), em 1949. Neste município, entre 1961 e 1967, foi professor de matemática e física do ginásio diocesano Padre Anchieta e do Seminário, vigário cooperador e diretor artístico da Rádio Educadora Jaguaribana.
Também em 1967, tornou-se bispo-coadjutor de Limoeiro do Norte, desempenhando as funções de assistente de movimentos de Ação Católica e assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na área litúrgica. Já no ano seguinte, participou da Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), realizado na cidade colombiana de Medelin. Como bispo de Limoeiro do Norte, dom José Falcão foi ainda membro da Comissão Episcopal de Pastoral, e presidente do Movimento de Educação de Base, o que lhe dava assento no conselho permanente da entidade.
Em 1972 foi nomeado arcebispo de Teresina. A partir de então, dom Falcão integrou também o Departamento de Vocações e Ministérios e o Departamento de Educação do CELAM, tendo sido ainda responsável pela Seção de Ecumenismo. Em 1979 participou da conferência do CELAM realizada em Puebla (México).
Em 1981 dom Falcão participou da congregação plenária da comissão para revisão do Código do Direito Canônico. Também fez parte do grupo de bispos eleitos pelo papa João Paulo II para participar da VI Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos que aconteceu no Vaticano em 1983.
No mês de março de 1984, dom José Falcão foi transferido para Brasília pelo papa João Paulo II, substituindo dom José Newton, que se aposentara. Na ocasião, declarou que esperava que seu relacionamento com o governo federal fosse tão bom como o que tivera com o governo do Piauí. Em maio de 1988 foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II, juntamente com dom Lucas Moreira Neves, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil. A partir de sua nomeação, a capital brasileira foi elevada ao patamar de sé cardinalícia.
Sua posse com cardeal foi formalizada no dia 28 de junho de 1988, quando recebeu o barrete cardinalício. Em fevereiro de 1995, por iniciativa de dom Falcão, foi fundado o Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos de Brasília, que iniciou no mesmo ano o curso de filosofia e em 1997, o de teologia. Em 1996, deixou a diretoria da OASSAB (Obras de Assistência e de Serviço Social da Arquidiocese de Brasília), cargo que ocupava desde 1984.
Em 2004, dom José Freire Falcão atingiu os 75 anos, deixando o comando da arquidiocese de Brasília, onde foi substituído por dom João Brás de Aviz. Tornando-se, obteve o título de arcebispo emérito da arquidiocese. No ano seguinte, compareceu ao funeral do papa João Paulo II e participou – com outros três cardeais brasileiros – do conclave que elegeu o papa Bento XVI.
Em agosto de 2009, foi homenageado pela CNBB, no contexto de comemoração dos 60 anos de sua ordenação sacerdotal, e em outubro de 2012, foi homenageado pelo Centro de Estudos Filosóficos e Teológicos de Brasília, quando da inauguração da biblioteca que ganhou o seu nome. Em 2013, no entanto, já contando 87 anos, não pode participar – como eleitor – do conclave que escolheu o papa Francisco, após a renúncia de Bento XVI.
Dom José Freire Falcão participou da missa celebrada pelo papa Francisco em ação de graças pela canonização do padre Anchieta – no dia 24 de abril de 2014 – junto aos cardeais brasileiros Raimundo Damasceno Assis, Odilo Scherer, João Braz de Aviz e Cláudio Hummes.
Exerceu também funções jornalísticas, escrevendo artigos mensais para o Jornal do Brasil e Correio Brasiliense, e artigos semanais para o boletim litúrgico da arquidiocese de Brasília, “O Povo de Deus”. Publicou o livro A vida e o pontificado de João Paulo II – anotações de um curso (2008).
O cardeal dom José Freire Falcão foi o segundo arcebispo de Brasília, ficando à frente da arquidiocese entre 1984 e 2004, quando se aposentou.