A Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou na segunda-feira, 04, na sede da entidade, em Brasília (DF), a 33ª edição do relatório anual de Conflitos no Campo Brasil 2017. A publicação reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores do campo brasileiro, neles inclusos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.
“Esse lançamento é uma tentativa de nós como Igreja estarmos atentos as questões dos conflitos. Quantas pessoas tem morrido e quantas pessoas tem perdido as suas terras?”, chamou atenção o bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, na abertura da cerimônia. Segundo o bispo o momento é propício para unir as forças e ideais em prol de um país mais “fraterno e justo, especialmente no campo”.
Na sequência, o membro fundador da CPT, Antônio Canuto, destacou que a edição de 2017 traz de modo “assustador” os números da violência. Apresentando os dados em um telão, Canuto disse que 71 assassinatos foi o maior número registrado desde 2003, quando se computaram 73 vítimas. “É 16,4% maior que em 2016, quando houve o registro de 61 assassinatos, praticamente o dobro de 2014, que registrou 36 vítimas”, apontou.
Mas não foi só o número de assassinatos que cresceu. Ainda segundo a apresentação de Canuto é possível identificar que o lado mais “macabro” de 2017 foram os massacres. Do total de mortos, 31 pessoas morreram em cinco massacres pelo país. Em destaque as cidades de Colniza, no Mato Grosso e Pau D’Arco, no Pará.
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carlos Walter, um dos assessores do relatório, também colocou em evidência o que os números escondem. Analisando o período de 2015 a 2017, que ele caracteriza como de “ruptura política” e comparando-os com outros anteriores, o professor afirmou que fica evidente o aumento exponencial da violência neste período. Os dados mostram, por exemplo, que a média anual de assassinatos saltou para 60,6.
Também convidada para compor a mesa de lançamento, a líder do acampamento Hugo Chávez, do Pará, Polliana Soares, afirmou que os dados da CPT são importantes porque quantificam uma realidade concreta na qual os trabalhadores do campo têm sofrido no Brasil. “Nós temos percebido em nosso país um aumento muito grande de violência contra os trabalhadores, sobretudo contra os camponeses, contra os que tem lutado pela terra, pela liberdade e pela água”, disse.
Outras ocorrências – Além dos conflitos por terra, outro dado preocupante levantado pela CPT é o relativo aos conflitos por água, como citado pela líder do acampamento. Em 2017 foram registrados 197 conflitos. O número mais elevado desde quando o organismo começou a registrar em separado estes conflitos. 172 foi o número de 2016. Um crescimento de 14,5%. “No período da ruptura política tivemos um aumento de 130%, afirmou o professor Carlos Walter. Também participaram da cerimônia de lançamento o atual presidente da CPT, dom André de Witte, a subprocuradora-geral da República, Deborah Duprat, entre outros convidados.