Vinte dias após o término da viagem do Papa aos Emirados Árabes Unidos, uma delegação do país do Golfo informou ao Santo Padre no Vaticano sobre as primeiras decisões fruto da Declaração Conjunta assinada em 4 de fevereiro com o Grande Imame de al-Azhar.
Alessandro De Carolis – Cidade do Vaticano
“A história não vai esquecer”. O Xeique Abdallah Ben Zayed Al Nahyan, ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, acaba de receber do Papa de presente, 200 exemplares da Declaração sobre a Fraternidade Humana e comenta com estas palavras a importância do gesto que há vinte dias imprimiu um novo curso nas relações entre a Igreja e o Islã. As cópias trazem no frontispício a foto que retrata Francisco e o Grande Imame de Al-Ahzar, Ahmad al-Tayyib, no ato de assinar em conjunto o documento que escolhe como língua comum “a cultura do diálogo”.
Primeiras decisões
E é precisamente na recordação daquele momento que a delegação oficial dos Emirados, liderada pelo Xeique Ben Zayed, foi recebida na residência de Santa Marta, no Vaticano, por volta das 12h30, hora local. O objetivo era comunicar pessoalmente a Francisco o primeiro feedback concreto produzido pelos princípios contidos na Declaração, alguns já implementados e outros em fase de realização. O Papa e o Xeique conversaram por 45 minutos antes de proceder à troca de presentes e depois continuar com o almoço na residência de Santa Marta. Além de cópias da Declaração sobre a Fraternidade Humana, Francisco quis dar de presente a cópia de uma gravura original datada do século XVII, que mostra as obras na Praça São Pedro, e quatro grandes álbuns de fotos destinados ao presidente e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos , com uma série de fotos recordação da visita papal aos Emirados.
As pedras da tolerância
Um dos presentes do Xeique ao Papa é singular e precioso, uma pequena caixa com algumas pedras cor ouro e bronze inteiramente cobertas de inscrições em árabe, mensagens inspiradas no amor e na tolerância. Um símbolo “sólido” para recordar o espírito da Declaração, de um catolicismo e de um islã que desejam prosseguir lado a lado em amizade, como a que há muito tempo liga seus dois maiores representantes. Certamente, um documento histórico que, enquanto isso, nos Emirados Árabes Unidos e no mundo islâmico está lentamente reescrevendo a história.
Gesto inimaginável
Falando na Cúpula Mundial de Governos realizada em Dubai há duas semanas, o próprio Xeique Ben Zayed enfatizou os passos dados pelo Papa e pelo Grande Imame. “Quem dentre nós – disse ele – poderia ter imaginado que dois símbolos dessa magnitude teriam superado todos os obstáculos para selar um documento de reconciliação, em um mundo marcado por oposições políticas, por incitação ao ódio, à violência e ao extremismo?”.
A única maneira de “apertar as mãos”
A resposta está na força dos valores que as duas religiões escolheram compartilhar, na condenação de todas as formas de intolerância, especialmente se armada, o apelo aos governantes para garantir a liberdade e os direitos e impedir “o derramamento de sangue inocente”, o respeito pelas mulheres, a vida, pela expressão da fé pessoal e pela casa do mundo em que todos vivemos. Uma declaração que será estudada, foi assegurado. Mas o ponto de partida e ponto crítico, foi indicado pelo Papa Francisco aos repórteres no voo de retorno de Abu Dhabi: “Se nós crentes não somos capazes de nos dar a mão, de nos abraçarmos, beijarmos e até rezarmos, a nossa fé será derrotada” .