Ricardo Gomes – Diocese de Campos
“É na vida interior que se encontram as verdadeiras linhas de continuidade desta incrível história de Deus com ele. A forma como toma decisões, o modo como se dedica ao estudo da Sagrada Escritura e a naturalidade com que cita passagens de cor, a familiaridade e a amizade que tem com Deus. Tudo fala da sua vida espiritual, de um jovem que não deixou de ser como tantos jovens, que passou pelas mesmas dificuldades dos jovens deste tempo”. Pe. Ricardo Figueiredo.
Guido Schäffer é conhecido como o «santo surfista». Servo de Deus, neste momento a sua vida está sendo analisada em vista da possível beatificação, que se espera aconteça em poucos anos. Jovem carioca estudou medicina e colocou os seus dons ao serviço dos mais pobres e fracos, realizando uma obra admirável de caridade junto dos sem-abrigo do Rio de Janeiro, através do apostolado das Missionárias da caridade (Irmãs de Madre Teresa de Calcutá). Ao mesmo tempo, vivia uma intensa vida espiritual, com uma disciplina de oração extraordinária. De fato, só deste ponto de vista se pode perceber a vida de Guido: a vida interior e espiritual alimentava a sua ação diligente junto dos mais fracos e pobres.
Padre Ricardo Figueiredo enfoca que Guido é exemplo para a juventude desorientada, anestesiada pela parafernália de computadores, celulares e outras tecnologias, e que aparenta ter perdido o gosto pela vida. Guido Schäffer pode voltar a dar horizonte a muitas vidas.
“Uma das características que esperamos ver serem assinaladas é o discernimento. Guido discernia não somente pesando os «prós» e os «contra», mas tudo procurava iluminar através da Palavra de Deus e da oração. Aliás, foi diante do episódio do jovem rico que ele escutou Jesus dizer-lhe: «Vai, vende o que tens, dá aos pobres» e decidiu-se a oferecer a sua prática da medicina aos sem abrigo. Mais tarde, continua o discernimento e sente Jesus pedir-lhe mais: não somente a realização de um serviço, mas a sua própria vida como sacerdote. Dá então o passo e pede a admissão ao Seminário”, conta padre Figueiredo.
Uma vida que serve de exemplo
Ao entrar na medicina, o jovem a todo momento testemunhava a sua fé. Vivia conforme os valores cristãos da cordialidade, temperança, caridade e justiça, optando pela medicina geral, que era a especialidade que lhe permitia avaliar o paciente de uma forma mais completa e total.
Toda a sua vida ele viveu intensamente e também na morte ele deu glória a Deus. Vivia uma profunda intimidade com Jesus, por isso estava pronto para o grande encontro. Morreu fazendo surf, jovem e forte, mostrando como Deus escolheu esta Sua jóia preciosa não só para ser padre e evangelizar na Arquidiocese do Rio de Janeiro, mas para ser santo e levar o nome de Jesus a todas as partes do mundo. Continua hoje a surfar as ondas de muitas praias, para mostrar aos jovens dos nossos dias que não só é possível ser-se santo, mas é o único e melhor caminho a ser percorrido. Recordamo-lo hoje não porque surfou grandes ondas, mas porque surfou a onda de Deus.
“No tempo de Seminário é um modelo de vida espiritual. Quando alguém perguntava por ele, todos sabiam que estava junto do sacrário. Ali passava horas, no doce e íntimo diálogo com Jesus. Ao mesmo tempo, era um excelente aluno nas cadeiras filosóficas e teológicas. Acreditamos, por isso, que quando ele um dia for elevado às honras dos altares será um excelente padroeiro para os seminaristas de todo o mundo. Com sua morte, como grão de trigo, deu muito fruto”,. – concluiu.
Guido Schäffer, um jovem de origem alemã, surfista carioca, estudou medicina e a exerceu por oito anos. Mais tarde entrou no seminário para ser sacerdote. Guido nasceu em Volta Redonda – Rio de Janeiro, em 22 de maio de 1974 e faleceu em 2009, pouco antes da sua ordenação presbiteral, em sua cidade natal, num acidente no mar, ocorrido quando surfava com seus amigos. Guido gostava de dizer que Jesus tinha sido o primeiro surfista, porque caminhou sobre as águas. Junto com outros jovens do Rio, ele cresceu em contato com o mar, a mata e a montanha; praticou surfe, ciclismo e futebol. Eram coisas das quais ele gostava e às quais se acostumou desde cedo. O surfe, em particular, foi tornando-se um lugar de oração. Para Guido, a prática esportiva ia tornando-se um campo para viver a fé. Filho de pais católicos fervorosos que além da prática dominical, tinham uma forte vida de oração e cultivavam um bom exemplo de cristãos na vida profissional.