Não é fácil traçar o perfil da família brasileira contemporânea. Numa primeira observação, vemos formações familiares vivendo em sofisticados condomínios nos bairros ricos de nossa cidade. Seria interessante examinar a ideia de família que têm os inquilinos desses condomínios. No outro extremo, vemos formações familiares morando nas favelas de Fortaleza, famílias precárias em todos os sentidos, umas amontoadas sobre as outras. São pessoas que coabitam filhos de diferentes pais e mães, casais passageiros, freqüentemente morando em lugares fétidos e indignos de qualquer ser humano. Há também em Fortaleza crianças perambulando pelas ruas da cidade à cata do necessário para sobreviver, divorciados totalmente de suas “famílias”. Seria superficial afirmar que o problema básico da família é miséria material, porque nas classes média e alta a família também está em crise com graves problemas. Diariamente multiplicam-se as separações, divórcios e desquites. O homem de hoje casa-se aceitando uma probabilidade de que seu matrimônio fracasse. Houve um aumento vertiginoso do fenômeno de mães solteiras. O individualismo da pós-modernidade dificultou a vivência familiar. Hoje, os idosos não contam mais na maioria das famílias. Os velhos são colocados em asilios. Houve uma inversão axiológica com pessoas conseguindo viver até sem valores. A sexualidade foi banalizada ao extremo. Em nossos dias pessoas tem pouco tempo para a convivência familiar. Pais e mães preocupados com suas vidas profissionais e com seu lazer têm pouco tempo para acompanhar seus filhos adolescentes que crescem agrupados fora da família. O uso descontrolado da televisão, internet e de celulares limitam drasticamente o tempo para conversas e o diálogo entre membros da família. De um lado a exagerada limitação dos filhos enfraquece a experiência da fraternidade familiar. Por outro lado nas famílias mais pobres há, às vezes, uma grande irresponsabilidade na procriação, com pais colocando filhos no mundo sem a remota possibilidade de criá-los corretamente, com as crianças freqüentemente com fome, doentes, sem escola, andando com más companhias, envolvendo-se com drogas e, mais tarde, sem qualquer possibilidade de encontrar emprego estável etc.
A orientação dos valores pelos pais é enfraquecida pela “orientação” da parte dos meios de comunicação, que fazem propostas no campo da sexualidade, do casamento, da limitação dos filhos, da separação, do uso do preservativo, do relacionamento sexual íntimo etc. As credenciais das pessoas que oferecem essas “orientações” pela TV às vezes são primárias ao extremo e suas vidas particulares, às vezes, não são exemplos para ninguém. Muitos jovens têm acesso irrestrito à Internet e às mais crassas formas de pornografia sem interferência por parte dos pais. Há um grande aumento no número de segunda e terceira uniões consensuais. É comum hoje encontrar filhos que receberam uma educação muito superior à educação que seus pais receberam e, por isso, seus pais têm medo de enfrentá-los. No meio destas conflitantes situações parece-nos que muitos pais estão totalmente perdidos em termos da educação dos filhos. Os problemas nas escolas e nos colégios também afetam o comportamento as crianças e adolescentes.
Famílias genuinamente cristãs são fundamentadas em valores como: união baseada no amor indissolúvel e aberta à procriação, com hierarquia nas relações de paternidade, filiação e irmandade, todos orientados por princípios religiosos. Muitas famílias em dificuldades hoje são famílias sem religião ou sem uma espiritualidade profunda. Obviamente religião não é em si a solução para todos os problemas das famílias, porém ajuda muito em sua estabilidade e orientação. O Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável por cassais do mesmo sexo. Agora a Igreja Católica e a maioria esmagadora das igrejas cristãs não discriminam pessoa alguma, seja por que motivo for. Para Católicos, não é um casamento, mas respeitamos. Porém, é mais uma grande mudança na ideia do que é uma família.