No dia 14 de setembro de 2019 celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz. No calendário litúrgico cristão há várias festas relacionadas à Cruz, todas com a intenção de relembrar a crucificação de Jesus Cristo, evento central da fé, como dizem o apóstolo São Paulo: “nós pregamos Cristo crucificado, que é para os judeus, na verdade, uma pedra de tropeço, e para os gentios uma estultícia; mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1 23-24). Enquanto a Sexta-Feira Santa é dedicada à paixão e crucificação, a festa da Exaltação da Santa Cruz, em 14 de setembro, celebra a cruz como instrumento de salvação, fonte de santidade e símbolo revelador da vitória de Jesus sobre o pecado e a morte. A cruz sobre a qual Jesus sofreu era, originariamente, apenas um instrumento material de sua morte. Mas já na época dos apóstolos ela se transformou em símbolo de redenção operado por Cristo e, portanto, símbolo da fé cristã. “A origem da festa remonta à dedicação das basílicas do Gólgota e do Santo Sepulcro, construída pelo Imperador Constantino em 13 de dezembro de 335, sendo que no dia seguinte se mostrava os restos da Santa Cruz” (cf. J. Konings, S.J., Liturgia Dominical, p. 495).
Segundo a tradição, a Vera Cruz (verdadeira cruz) foi descoberta em 326 por Santa Helena de Constantinopla, mãe do Imperador Constantino Magno, que deu liberdade religiosa à Igreja depois de 250 anos de perseguição. Ela viajou como peregrina para a Terra Santa. Aí ela mandou fazer diligentes pesquisas a fim de descobrir e identificar a verdadeira cruz de Cristo. A Igreja do Santo Sepulcro foi construída no local da descoberta, por ordem de Helena e Constantino. A igreja foi dedicada nove anos depois em 335, com uma parte da cruz em exposição. Em 13 de setembro ocorreu a dedicação da igreja e a cruz foi posta em exposição no dia 14 de setembro, para que os fiéis pudessem orar e venerá-la. Em 614 os persas invadiram a cidade e tomaram a cruz, que foi recuperado pelo Imperador Bizantino Heráclito em 628. Pouco depois a cruz retornou ao Santo Sepulcro (cf. O Santo do Dia, S. Conti, Vozes, 1990, p.402).
Quem pensa que o amor, a glória, a onipotência de Deus tenham sido revelados somente quando Jesus operava milagres, permanece espantado quando, no evangelho de São João, lê que o momento mais alto da manifestação da glória de Deus acontece quando seu Filho é levantado na cruz. É no Calvário que o Pai chega a dizer-nos, da maneira mais clara, quanto no ama. Ali se rompeu todo véu que nos impedia de ver o seu rosto (cf. Celebrando a Palavra, F. Armellini, Editora Ave-Maria, 2001, p.138).
Segundo O Missal Romano: “A Cruz, sinal do mais terrível entre os suplícios, é para o cristão a árvore da vida, o tálamo, o trono, o altar da nova aliança. De Cristo, novo Adão adormecido na cruz, jorrou o admirável sacramento de toda a Igreja. A Cruz é o sinal do senhorio de Cristo sobre os que no Batismo são configurados a ele na morte e na glória”. São Paulo nos diz: “Pois se fomos totalmente unidos, assimilados à sua morte, o seremos também à sua Ressurreição” (Rm 6, 5). Na tradição dos Padres, a cruz é o sinal do Filho do Homem que comparecerá no fim dos tempos “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra baterão no peito; e elas verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu na plenitude do poder e da glória” (Mt 24.30). Com o olhar voltado para o mistério central de nossa fé, pedimos a Deus podermos sempre participar dos frutos da Redenção até conseguirmos a glória da Ressurreição. A morte de Jesus foi um exemplo de honestidade, de coerência de adesão à verdade até o supremo sacrifício de si. Por isso, a Paixão e morte de Jesus são desde sempre o símbolo da morte do justo que suporta heroicamente o martírio, para não trair a sua consciência nem as exigências da verdade e da lei moral.
A Festa da Exaltação da Santa Cruz nos introduz no cerne do projeto de Deus, realizado na vida, morte, ressurreição e Ascenção de Jesus. Este projeto nos revela, de um lado, o imenso amor de Deus, convidando-nos a aceitá-lo agradecidos. De outro lado, mostra-nos que cabe a cada um e a toda a comunidade, aderir plenamente a Jesus na fé. (cf. J. Bortolini, Roteiros Homiléticos, Paulus, 3ª. Edição, 2007, p. 779).
Imagem: Sé Catedral do Senhor do Bonfim – diocese de Crateús
Por: Pe. Brendan Coleman Mc Donald – Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1