ENCÍCLICA FRATELLI TUTTI

Dom Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)

O Santo Padre, o Papa Francisco, inspirado em São Francisco de Assis, santo no qual ele escolheu para guiar o seu Pontificado, escolhendo o nome do Santo como seu “onomástico”, escreve a essa Encíclica como o título de “Somos todos irmãos”, tema que vem “a calhar” diante do cenário atual que vivemos.

Essa é a terceira Encíclica do pontificado do Papa Francisco, a primeira publicada em 2013 no início de seu pontificado intitulada de “Lumen Fidei” e a segunda intitulada de “Laudatò Si” publicada em 2015, que se tratava do cuidado com a casa comum e com o meio ambiente. Seguindo nessa linha do cuidado com o meio ambiente e do respeito com essa casa comum, que justamente não é só minha, mas igualmente do próximo, que o Papa nos apresenta essa terceira Encíclica do seu pontificado nesse ano.

Se quisermos construir um mundo melhor para nós e nossos filhos e parentes eu tenho que respeitar o meio em que vivo de todas as formas, cuidando para que ela seja boa para mim e para o próximo. Eu começo cuidando bem dessa casa comum respeitando o meu próximo, tratando-o com respeito e como meu irmão.

Por isso essa Encíclica veio no momento certo, em que somos chamados a viver em um “novo normal” causado pela pandemia da Covid-19. Essa pandemia serviu para pararmos um pouco para pensar como está o trato com o próximo e com o meio ambiente e que as pessoas devem ter mais amor no coração, se respeitando umas as outras. Essa Encíclica vem nessa linha do “novo normal”, fazendo as pessoas pensarem melhor em suas atitudes, seja para consigo mesma, com o meio em que vive e com o próximo.

No prefácio da encíclica o Papa Francisco começa citando que São Francisco usava essas palavras – fratelli Tutti –  ao se dirigir aos seus irmãos para lhes propor uma forma de vida de acordo com o Evangelho. Essa proposta é o amor que Jesus tanto ensinou enquanto esteve entre nós, o amor a Deus e consequentemente ao próximo. Somente assim na base do amor sem medidas que poderemos viver esse “novo normal” daqui para frente.

O Papa Francisco ainda diz que São Francisco não impunha nada a ninguém, não impunha doutrina, não fazia guerra dialética, mas comunicava o amor. Uma sociedade que permanece no amor, permanece com Deus. Foi diante de um mundo aonde as pessoas só pensavam em si mesmas e queriam ser melhores que as outras e ainda promovendo guerras, violências entre outras coisas, que suscitou no coração de São Francisco se “desprender” de tudo e levar o amor as pessoas.

Semelhante ao que suscitou no coração de São Francisco há muitos anos atrás, suscitou agora o Papa Francisco ao escrever essa Encíclica e mesmo passado muitos anos a realidade de vida é quase a mesma. As pessoas estão vivendo sem amor no coração e consequentemente sem Deus e pensando em guerras e uns querendo ser melhores que os outros. Por isso essa Encíclica vem neste momento oportuno em que o Papa Francisco quer se dirigir ao coração das pessoas, pedindo para que elas tenham mais amor no coração e consequentemente Deus no coração, cuidando delas mesmas e dos outros, respeitando essa casa comum.

O Papa Francisco alerta que precisa reconhecer cada pessoa em sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Cada pessoa merece ter condições de vida digna, tendo casa, comida na mesa, trabalho, estudo e uma família. Muitas vezes as pessoas não ligam umas para as outras e não se preocupam com aqueles que não tem condições de subsistência.

Muitas pessoas se fecham em seus mundos, sobretudo, agora com o avanço da tecnologia e internet, o mundo ficou muito virtual e tecnológico, por um lado isso é bom, mas por outro nem tanto. Devemos usar a tecnologia para fazer o bem e não o mal, para aproximar as pessoas e não as afastar.

Esse é o alerta do Papa Francisco com essa Encíclica, vivemos num mundo globalizado e devemos aprendera viver nele. Usando os avanços tecnológicos para o bem e a serviço de todos e desta maneira contribuindo para a construção de um mundo melhor.

A Encíclica contém sete capítulos e ao longo desses capítulos o Papa Francisco destrincha de maneira clara aquilo que já mencionamos até aqui. O intuito do Papa Francisco com essa Encíclica é que ela chegue até o maior número de pessoas possível e as pessoas possam se “abrir” mais para as outras, saindo desse “mundo” secularizado no qual vivemos, que cada pessoa saia do seu “mundinho” e busque mais valorizar e amar o próximo.

Que as pessoas possam preservar essa casa comum, cuidando de si mesmas, do meio em que vivem e do próximo. Essa Encíclica do Papa Francisco como já foi mencionado é de certa forma uma “continuidade” da última e ainda bem atual Encíclica que o Santo Padre lançou intitulada de “Laudato Si”.

O Papa Francisco destrincha sobretudo nos capítulos três e quatro o que seria o que seria o “mundo ideal”, pautado no amor e no diálogo entre os povos. O mundo e o coração de cada pessoa humana devem estar abertos para essa transformação.

No capítulo cinco o Romano Pontífice fala do que deveria ser a verdadeira política, essa política deve ser voltada para as pessoas, principalmente os mais necessitados e uma política sem corrupção, deve ser limpa e aquele político que foi eleito deve fazer de tudo para produzir frutos em seu governo. Assim o governo que está à frente da nação ou do seu estado, fará um melhor governo.

O Papa Francisco ainda diz na Encíclica que todas as religiões unidas num único propósito que é o “amor” podem construir um mundo melhor. As religiões não devem competir qual é a melhor, mas todas devem se unir num único objetivo que é buscar a Deus, que é único e abençoa todas as religiões. De Deus brota o “amor” e todas as religiões devem se unir, pegar esse amor que vem de Deus e transmitir as pessoas.

Por fim, o Papa Francisco termina a Encíclica fazendo a oração ao criador e a oração ecumênica, pois essa encíclica é publicada pelo Papa, mas aberta a todas as religiões, assim como a anterior “Laudato Si”. Todas as pessoas que professam qualquer credo religioso devem ter acesso a essa Encíclica, e a partir da leitura tentar transformar em gestos concretos na sua vida o que foi lido.

Sejamos “Fatelli tutti!”. Que Deus nos abençoe e Maria Santíssima, a Doce Mãe, passe na frente e que por intercessão de São Francisco de Assis podemos nos tratar todos como “irmãos” e juntos construir e edificar essa casa comum que Deus nos deu de presente, pautados pelo amor que vem dele.

Imagem: Arquidiocese de Juiz de Fora