Belém (PA) foi escolhida para sediar o Congresso Nacional do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), em 2019, quando serão celebrados os 50 anos de caminhada pastoral com os pescadores artesanais do Brasil. Aberto em março, na última Assembleia Nacional do CPP, o ano jubilar tem como tema “Celebrar a resistência, profetizar a esperança” e lema “Avance para as águas mais profundas e lance as redes pra pesca”, a partir de trecho do Evangelho de São Lucas.
O jubileu também pretende apontar caminhos futuros. A ideia é que atividades sejam realizadas nos regionais para celebrar a data, em maio do ano que vem, no Congresso de Belém, que deve reunir cerca de 400 pessoas entre agentes pastorais, pescadores e pescadoras, convidados e parceiros.
“Estamos cuidando com muito carinho e atenção para fazer desse momento um tempo de reflexão e aprofundamento de nossa caminhada pastoral. Teremos um ano marcado por momentos de reflexão interna tanto em nível nacional como nos regionais”, explica a secretária-executiva do CPP nacional, Ormezita Barbosa. As celebrações nos regionais acontecerão até o fim de 2018, informa o CPP.
Em abril, foi realizado um ciclo de debates pelo CPP Regional Bahia, tendo como foco as problemáticas das comunidades tradicionais pesqueiras. Foram abordadas a questão das políticas de regularização fundiária e o avanço violento dos grandes empreendimentos do capital nacional e internacional sobre as comunidades pesqueiras.
Celebrar a história e a missão
O bispo de Brejo (MA) e referencial da Pastoral dos Pescadores na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom José Valdeci Santos Mendes, considera o jubileu como oportunidade de celebrar a história e missão da Pastoral.
“Esse é o momento importante de celebrar as conquistas, mas ao mesmo tempo alimentar a esperança, alimentar esse profetismo, alimentar essa coragem no meio dos pescadores e pescadoras, trazendo o tema ‘Celebrar a resistência, profetizar a esperança’, que mostra um significado importante desse celebrar a resistência, que não significa celebrar aquilo que nós resistimos, que nós aguentamos, mas é o resistir para continuar a caminhada, é um resistir para apontar novos horizontes e, por isso, a outra parte do tema ‘profetizar a esperança’ é ser esse sinal de vida, é ser esse sinal da presença de Deus, é ser esse sinal de esperança no meio dos pescadores e pescadoras”.
– Dom José Valdeci
Ormezita concorda e vê na celebração dos 50 anos, a possibilidade de avaliar a trajetória: “É um momento importante na caminhada da pastoral que nos possibilita olhar para a história com criticidade e esperança e se desafiar a continuar caminhando a serviço dos pescadores e pescadoras artesanais no Brasil, inspirando mudanças e protagonismo, iluminados pelo Evangelho de Jesus que promove justiça e dignidade”.
Dom Valdeci (ao centro na foto) recorda a atitude profética e de resistência do CPP ao falar dos desafios e da atuação para o futuro. O bispo tem “certeza que o CPP vai vivenciar sempre esse compromisso e esse compromisso na fidelidade para com os pescadores e pescadoras”. Uma luta sempre em pauta na atualidade é a questão dos territórios. “Esse é o momento de alimentar o nosso compromisso, é o momento de alimentar a nossa esperança para que de fato possamos nos comprometer sempre mais com os pescadores e pescadoras, sobretudo lutando pela regularização dos territórios para que de fato prevaleça aquilo que Jesus disse: ‘Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância’ e é por isso que essa celebração vai continuar nos motivando a lutar por direito e dignidade”, defende.
Histórico
A organização da Pastoral dos Pescadores teve início nas viagens do frade alemão Alfredo Schnuettgen, nos anos finais da década de 1960. A sensibilização e identificação com o trabalho pastoral de frei Alfredo em defesa de pescadores e pescadoras, levou o então vigário de Fátima, em Olinda (PE), a aproximar-se dos pescadores da praia do Carmo e, nesta praia, ele lançou a rede da Pastoral dos Pescadores. Com o apoio da CNBB e bispos como dom Hélder Câmara e dom Lamartine Soares, expandiu a atuação pastoral até o litoral norte paraibano, mais precisamente em Acaú e Pitimbu e no estado de Alagoas, persistindo na defesa dos pescadores contra o autoritarismo dos governos dentro das colônias e federação de pescadores.
O frade viajava no litoral em Fusca e seu trabalho chegou ao litoral da Paraíba e do Rio Grande do Norte. O reconhecimento nacional da pastoral foi em 1976, o que levou à expansão do trabalho. Um dos destaques de atuação nestes 50 anos é a criação da Constituinte da Pesca, que, de acordo com a secretária executiva do CPP, provocou um amplo debate na sociedade e visibilizou a situação de exclusão e exploração em que viviam as comunidades pesqueiras.
“Esse processo todo resultou na formação do Movimento Nacional dos Pescadores (Monape), que durante muitos anos atuou na articulação e mobilização dos pescadores no país”, recorda Ormezita. Outro legado importante do CPP é a contribuição junto aos pescadores e pescadoras para que sejam protagonistas na luta em defesa do território e do fortalecimento da pesca artesanal.