Por: Jornalistas Mychelle Santos e Patrícia Mirelly
Um dia histórico para a nação romeira: é autorizada abertura do processo para beatificação de Padre Cícero
“A Igreja que hoje me persegue, amanhã tomará a minha defesa”, disse Padre Cícero Romão Batista. Na manhã deste sábado, 20 de agosto de 2022, essa profecia se cumpriu quando a Diocese de Crato anunciou a abertura do processo para beatificação do “Patriarca do Nordeste”. Foi no largo da Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, ao final da tradicional missa em sufrágio da alma do sacerdote que o bispo de Crato, Dom Magnus Henrique, fez o pronunciamento.
“Queridos filhos e filhas da Diocese de Crato e romeiros de todo o Brasil, é com grande alegria que vos comunico nesta manhã histórica, que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do Santo Padre, o Papa Francisco, a carta do Dicastério das Causas dos Santos, datada de 24 de junho de 2022, comunicando a autorização para a abertura do Processo de Beatificação do Padre Cícero Romão Batista, que, a partir de agora, receberá o título de “Servo de Deus”. Deus Seja Louvado!”, comunicou o pastor diocesano.
Este dia histórico foi possível graças ao trabalho incansável de muitas mãos, romeiros e romeiras, leigos e leigas, padres, bispos, religiosos e religiosas. As lágrimas que banharam os rostos dos romeiros e devotos no momento do anúncio foram sinais de gratidão e de alegria traduzindo o sentimento de toda uma nação.
Para entender como chegamos até aqui
Bispo e romeiro, Dom Magnus Henrique, nos seis meses à frente da Diocese de Crato, abraçou a causa do Padre Cícero Romão dando continuidade aos trabalhos realizados por seus antecessores. Em 12 de maio de 2022, por ocasião da visita “Ad Limina”, ele entregou ao Papa Francisco uma carta expressando o sonho dos milhares de devotos. Assim escreveu:
“…recorremos à vossa solicitude de Pastor Universal da Santa Igreja, para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado e venerado, no sentido de permitir a abertura de uma causa de beatificação. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine com coração de Pai e como Sucessor de Pedro este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do Padre Cícero” (Trecho da carta entregue ao Santo Padre Francisco, lida por Dom Magnus na missa deste dia 20).
Em 2001, a Diocese de Crato constituiu uma comissão a fim de preparar uma revisão histórica sobre a causa de Padre Cícero. Após cinco anos de trabalho, em 30 de maio de 2006, uma petição foi entregue à Congregação para a Doutrina da Fé com a assinatura de 254 bispos brasileiros pedindo um gesto concreto de reconhecimento das ações pastorais e apostólicas do padrinho da nação romeira no desenvolvimento da região. Oito anos depois, em 27 de outubro de 2014, a Congregação indicou o caminho da reconciliação do Padre Cícero Romão na carta histórica assinada pela Secretaria de Estado do Vaticano.
Servo de Deus
Com a autorização para abertura do processo, Padre Cícero recebe o título de “Servo de Deus”. Nessa fase inicial, é feita uma investigação das virtudes ou martírio. Concluído o processo, o candidato passa a ser considerado (a) venerável. Para se tornar beato ou beata é preciso a comprovação de um milagre alcançado por meio de sua intercessão.
Acompanhe a aqui: Coletiva de Imprensa
ANÚNCIO AOS ROMEIROS DA APROVAÇÃO PARA A ABERTURA DO PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO DO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA
“Este É o Dia Que o Senhor Fez Para Nós, alegremo-nos e n’Ele exultemos” (Sl 117).
Na beleza das terras nordestinas, terras de homens e mulheres fortes, como afirmou Euclides da Cunha, desabrocharam grandes figuras que deixaram marcas indeléveis no coração do sertanejo, seja na cultura, na musicalidade que embala a nossa esperança, nas músicas que são verdadeiros salmos da nossa luta, na arte, na literatura, na ciência, na Fé católica e em tantos outros que, no anonimato, deixaram seus rabiscos, e sua alma expressam na vernissagem do tempo e no museu do coração.
A Igreja Católica Apostólica Romana gerou e continua gerando em seu seio tantos cientistas, escritores, Santos que transformaram as realidades do mundo da educação, da arte, da saúde e da política e, no caminho da santidade, continuam incansavelmente lutando todos os dias.
O desabrochar da santidade não precisa das cátedras das universidades, embora muitos santos foram mestres e doutores. Em nossa realidade, Deus escolheu os fracos e pequeninos para confundir os fortes, transformando o que o mundo acreditava ser glória em ruínas, das quais só nos restaram as sombras de um passado pouco iluminado; logo, sombras esmaecidas. A glória no coração de Deus passa despercebida aos olhos dos grandes deste mundo.
Dentre tantos homens e mulheres que estão escritos nos Cânones da Igreja, existem muitos que, no silêncio, viveram a santidade e outros fizeram seus caminhos entre sombras e luzes, como no asseverou o Apóstolo São Paulo: “tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo” (cf. Rm 7,18-21).
No espírito da Lumem Gentium, somos impelidos a tomar consciência dessa vocação universal: “Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40). Todos somos chamados à santidade: “Deveis ser perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5,48).
O Santo Padre Francisco, em sua Exortação Apostólica sobre a santidade no mundo de hoje, interpela-nos: “Deixemo-nos estimular pelos sinais de santidade que o Senhor nos apresenta através dos membros mais humildes deste povo que ‘participam também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade’. Como nos sugere Santa Teresa Benedita da Cruz, pensemos que é através de muitos deles que se constrói a verdadeira história: ‘Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. (…) Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história’” – e nos proclama categoricamente o Santo Padre: “A santidade é o rosto mais belo da Igreja” (cf. Gaudete et exsultate, 8-9).
Em carta que entreguei nas mãos do Santo Padre por ocasião da visita “ad limina” no dia 12 de maio de 2022, expressei o sonho e a história de um povo, quando assim relatei: “…recorremos à vossa solicitude de Pastor Universal da Santa Igreja, para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado e venerado, no sentido de permitir a abertura de uma causa de beatificação. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine com coração de Pai e como Sucessor de Pedro este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do Padre Cícero” (Carta entregue ao Santo Padre Francisco).
É com os sentimentos de gratidão, alegria, júbilo e esperança que agradecemos o trabalho incansável de tantos romeiros e romeiras, leigos e leigas, padres, religiosos e religiosas, como também ao meu predecessor Dom Gilberto Pastana.
Quero registrar um agradecimento todo especial, repleto de sentimentos de gratidão e em nome deles, extensivo a todos que colocaram um chapéu de palha na cabeça ou no coração e ergueram as mãos aos céus e cantaram uma prece, são eles: Dom Fernando Panico, Bispo Emérito, e a Irmã Annette (in memoriam). Deus seja louvado! Pois “Deus nunca deixou trabalho sem recompensa, nem lágrimas sem consolação” (Padre Cícero).
Queridos filhos e filhas da Diocese de Crato e romeiros de todo o Brasil, é com grande alegria que vos comunico nesta manhã histórica, que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do Santo Padre, o Papa Francisco, a carta do Dicastério das Causas dos Santos, datada de 24 de junho de 2022, comunicando a autorização para a abertura do Processo de Beatificação do Padre Cícero Romão Batista, que, a partir de agora, receberá o título de “Servo de Deus”. Deus Seja Louvado!
Dom Magnus Henrique Lopes, OFMCap.
Bispo da Diocese de Crato