O diálogo, amplo e permanente, segundo o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira tem força para fazer a vida resplandecer com toda a sua potencialidade. Em seu artigo “Vida entre diálogos”, dom Walmor aponta que a promoção da dignidade depende, determinantemente, da competência dialogal. Exercício que, de acordo com ele gera lucidez. “Infelizmente, na contramão de tantos avanços e conquistas da contemporaneidade, observa-se generalizada incompetência dialogal. Situação preocupante, por comprometer as relações que definem a sociedade, limitando a incidência dos avanços obtidos no cotidiano das pessoas”, diz. Para ele a solução é resgatar a capacidade humana de falar e ouvir, reconhecendo o outro como semelhante, “caminho rumo à autêntica força construtiva, a partir do diálogo”.
No artigo ele diz que para dialogar, é preciso reconhecer um pressuposto básico: a igualdade entre as pessoas, a partir do respeito às singularidades. “Esse princípio permite a difícil conjugação das diferenças e da liberdade de escolha, o que é direito de cada um, sem comprometer a busca por entendimentos. Um caminho a ser trilhado, para que a pluralidade de perspectivas e opiniões tornem-se riquezas, com resultados benéficos para todos”, aponta o bispo.
Segundo dom Walmor é preciso identificar as causas que inviabilizam o diálogo em muitos contextos. Merecem atenção especial, de acordo com ele, as redes sociais que, no ambiente digital, trouxeram muitas possiblidades para a interação humana, mas também abrigam muitos fenômenos ameaçadores. “Nesse ambiente, verifica-se com frequência a presença de pessoas que se apresentam como detentoras de opinião com ‘peso absoluto’. Surpreendentemente, conseguem convencer um amplo público a respeito de determinada perspectiva, não permitindo a abertura para possíveis contrapontos ou debates”, diz.
As pessoas, inclusive, por considerarem a própria opinião verdade incontestável têm dificuldade, segundo o bispo, para se avaliar, pois não concedem abertura ao “outro lado”. “Evitam o necessário confronto de ideias, imprescindível para que duas ou mais pessoas, via diálogo, aproximem-se mais do conhecimento a respeito da realidade”, afirma. Ainda de acordo com dom Walmor, a ilusão de se achar ‘dono da verdade’, emitindo juízos, é grande risco, pois atrofia a qualidade necessária para promover o entendimento. “Cada vez mais, neste tempo marcado pela acelerada velocidade, não se ouve o outro lado. Consequentemente, perde-se a condição necessária para compreender o semelhante, em suas singularidades. Apega-se ao próprio modo de pensar, um completo enrijecimento que gera preocupante esclerose, obstáculo para avanços e conquistas”, diz.
O bispo enfatiza também que é terrível o estreitamento de mentalidades que ocorre neste momento, quando são exigidos novos passos para solucionar graves problemas. Em vez de novas propostas, ele afirma que tende-se a repetir, de modo estéril, velhas práticas, incapazes de conduzir a sociedade às soluções necessárias. “Sem os parâmetros humanísticos, o diálogo é empobrecido pelas mediocridades, justificadas por perspectivas ideológicas que se consideram absolutas. Consequentemente, não é alcançado o desenvolvimento integral tão almejado por todos”, aponta.
Para dom Walmor, a vida se constrói a partir de qualificados diálogos, estabelecidos por indivíduos que buscam, verdadeiramente, o entendimento. “Pessoas hábeis na capacidade para escutar o outro, a partir de preciosa competência humanística. Cidadãos que buscam defender pontos de vista não simplesmente para fazer prevalecer interesses questionáveis, muitos relacionados simplesmente ao acúmulo do poder e do dinheiro”, garante. Ele afirma que é preciso investir na competência dialogal que leva ao bem e à verdade, impulsionando os entendimentos e as intuições capazes de salvar contextos diversos da sociedade. Assim, todos crescem e conquistam o sentido nobre de viver em fraternidade solidária, pois se reconhece a importância inegociável de cada pessoa.
“A capacidade para dialogar é, ao mesmo tempo, dom e tarefa, promove a formação e a correção de perspectivas. Antídoto para ignorâncias e mediocridades, livrando a cidadania de graves prejuízos. A nova etapa civilizatória que a humanidade busca só pode ser alcançada quando se promove a vida no horizonte dos diálogos”, finaliza dom Walmor.