Ibiapina segue seu caminho


No próximo dia 19 deste mês, comemoram-se 133 anos do falecimento de Padre José Antonio de Maria Ibiapina (1806-1883).


Viveu 77 anos enfrentando dificuldades pessoais,


familiares, sociais, políticas, religiosas, vencendo os desafioscomo um predestinado remando contra a corrente.


Com a morte prematura da mãe, a condenação e morte dopai e do irmão mais velho, envolvidos na Confederação do Equador,o jovem Ibiapina teve que assumir a família. Entrou e saiu doSeminário onde pretendia estudar para padre. Com a criação docurso Jurídico em Olinda, seguiu o Direito e formou-se em 1832.


Logo foi nomeado professor e, em seguida, eleito deputado geral,acumulando os cargos de juiz de direito e chefe de polícia. Tendosubido com sucesso e tão rapidamente na vida, Ibiapina vai descerna mesma rapidez por decisão de caráter.


Ele não se encaixava na engrenagem da política, nem da magistratura, percebendo as mentiras, as falcatruas, ladroagens,prepotências, a força do dinheiro, as articulações promíscuas dopoder constituído. Abandonou essas estruturas e foi viver comoadvogado independente. Em 1838 atuava na cidade de Brejo deAreia, onde começou a ganhar fama e crédito. Quem defendia opobre, o que não tinha ninguém por ele? Era o Doutor Ibiapina!


Quem outro? Em 1840 abriu sua banca de advocacia no Recife,seguindo o traçado do direito, da verdade, da justiça. Em 1850deixou também a advocacia. Não lhe interessou o dinheiro, osbens materiais e a fama de excelente profissional do Direito.


Para o julgamento do mundo, fez a loucura de deixar tudo ebuscar a solidão.Foi ordenado padre aos 3 de julho de 1853, com 47 anosincompletos. De imediato, apresentou-se lhe nova oportunidadede subir na vida pela carreira eclesiástica: nomeado professor doSeminário, vigário geral da diocese de Pernambuco e bispo maisadiante, quase certamente. Preferiu a vida dura de missionário peloscaminhos do Nordeste. Na segunda metade do século XIX, com aepidemia do cólera e as grandes secas matando gente à vontade, eledecidiu-se pela missão itinerante. De 1853 até 1883, foram 30 anosde dedicação ao pobre, ao indigente, à orfandade, aos doentes edesvalidos, aos que não tinham mais esperança. Ao longo do temposofreu ataques da maçonaria, incompreensões do bispo do Ceará esete anos de paralisia antes de morrer. As 22 Casas de Caridade porele fundadas foram também desaparecendo. A de Santa Fé resistiua duras penas até a década de 1940, quando Celso Mariz escrevia“Ibiapina, um apóstolo do Nordeste”.


À parte o grande historiador, Ibiapina foi sendo quase quecompletamente esquecido depois de sua morte, em 1883. DomMarcelo Carvalheira o resgatou, deu entrada ao processo parasua canonização, em 1992, iniciando também a transformaçãode Santa Fé em Centro Pastoral. Hoje “Santuário Padre Ibiapina”.


O tempo de esquecimento, num primeiro momento, talvezse possa atribuir ao “fenômeno” Padre Cícero (1844-1934) que apartir de 1889, pelo “milagre” da hóstia ensanguentada, foi acusadode embusteiro, a beata Maria de Araújo de doente e o povo defanático. As censuras e condenações foram implacáveis contra o


“santo” do Juazeiro e a hierarquia católica passou a evitar qualquerfato ou pessoa que pudesse despertar fanatismo. O nordestinosimples e pobre, porém, ignorou as proibições da Igreja, continuousuas romarias e multiplicou por toda parte a imagem do “Padim”.


Correndo o tempo, veio Frei Damião (1898-1997) com suas missõespopulares, entrando na vida do povo com as ameaças de infernoe mandando acabar com protestante, na contramão do ConcílioVaticano II. Mais esquecido foi ficando Ibiapina! Por mais de sessentaanos, de cidade em cidade de nossa região, Frei Damião reuniumultidões, muitas vezes levado por políticos e “igrejeiros” comestranhos interesses. O frei faleceu em 1997 e já tem sua imagem-monumentodesde 2004, com 34 metros de altura sobre a Serra daJurema, em Guarabira. Tudo muito rápido e grandioso, o monumentologo se tornou um ponto certo de turismo e devoção.


Padre Cícero, pela insistência da diocese do Crato e doseu bispo nos últimos anos, conseguiu recentemente a desejadareconciliação com o Vaticano. Frei Damião, com o respaldo einteresse de sua Ordem religiosa, está com seu processo decanonização em pleno andamento. Muito provavelmente, os doischegarão à glória dos altares bem antes do nosso Padre Ibiapina,que se arrasta com dificuldades para atender as exigências deRoma. Mesmo assim, no próximo dia 19 deste mês de fevereiro,milhares de devotos chegarão ao Santuário de Santa Fé, na Arara,para visitar o túmulo do missionário, participar da santa Missa,agradecer as graças alcançadas e pedir mais outras. “Louvado sejaNosso Senhor Jesus Cristo” foi seu lema, sua expressão cotidiana.


Sigamos com ele o CAMINHO que é Jesus!