Notícias Especial Vocações: Nosso tesouro, nossa família! 21/08/2017 Eles se casaram na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no Bairro São Miguel, em Juazeiro do Norte, há 37 anos. Dois filhos, dois netos. Ele, exercendo o ministério diaconal; Ela, ministra da eucaristia. Ambos vivendo, em plenitude, àquilo que reza a Sagrada Escritura: “Uma só carne”. Fortalecidos pela “Alegria do Evangelho”, o casal Jesus e Cícera Moura conta os desafios e os júbilos do matrimônio em entrevista especial, nesta semana dedicada à Vocação à Família. *Patrícia Mirelly, especial vocações É por conhecer o valor do matrimônio e da família, que o casal Moura e Cícera, como são conhecidos, procuram vivê-lo fielmente, oferecendo sua aliança conjugal ao serviço do Reino e descobrindo, junto, a beleza e a grandeza dessa vocação. Ele, aposentado, tem trabalhos voltados às pastorais e formações, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Salesianos), em Juazeiro do Norte, atuando, principalmente, nas comunidades rurais: Sítios Planalto, Popôs e Leite. Ela, aposentada, trabalha na Coordenação Pedagógica de um colégio, e o acompanha na missão. Por ser Ministra Extraordinária da Comunhão Eucarística (MECE), facilita os trabalhos, em especial, nas comunidades próximas. Ao cumprir essa missão, contrariam àqueles que acreditam que a fidelidade um ao outro, para “a vida inteira” é coisa muito difícil e até impossível, sobretudo, nestes tempos de rápidas mudanças nas tecnologias, na sociedade e na cultura. Para o casal, o desafio não está na promessa, mas no cumprimento dela. “Prometer é fácil e cumprir exige fidelidade. O prometer e o cumprir, independentemente, andam juntos, é dever”, considera. Embora ele acelerando e ela pé no freio, ambos procuram não perder o foco “família”. “Na nossa ótica, a unidade se prende a tudo fazermos juntos: é na oração, na celebração, no lazer, no alimentar-se, na formação, no social…”, reforça. (Casal Moura: aliança conjugal conjugada ao serviço do Reino. Foto: Reprodução) Num momento histórico em que a família é alvo de descrédito e apatia, sobretudo, por parte dos jovens, o casal Moura acredita que indispensável para um bom casamento continua sendo o amor. “Não um amor frio ou qualquer, mas o amor ágape. Somente com ele podemos tudo. É diferente de um amor interesseiro, aventureiro, incoerente ou imprudente. É aquele que perdoa, aceita, concilia e suporta”, pontua. Por outro lado, a preocupação também deve ser “o viver”. Já o diálogo, a renúncia, o zelo de um pelo outro, no uso constante do perdão, tendo o leito conjugal não apenas para o sexo, mas como lugar de reconciliação, de oração e, a partir disso, chegar ao entendimento necessário para cada dia, são os segredos para superar as eventuais crises. Mesmo em tempos onde a televisão, o celular e o computador (principalmente quando é grande o uso das redes sociais) acabam por impedir um diálogo entre os membros da família, o testemunho, a coerência e a prudência “são requisitos que devem ser utilizados pelos pais de uma geração, que vivem num mundo hoje diversificado, que tudo querem em demasia”, acredita o casal. (Segredo para um bom casamento continua sendo o amor. Foto: Reprodução) Leia a entrevista na íntegra: Assessoria de Comunicação – AC: Hoje em dia muitas pessoas pensam que prometer fidelidade um ao outro para “a vida inteira” é coisa muito difícil e até impossível. Na opinião do casal, quais são os desafios do matrimônio? Existe algum segredo para permanecer juntos? Moura e Cícera – MeC: Não vemos nada difícil quanto à promessa. No cumprimento dela, sim. Prometer é fácil e cumprir exige fidelidade. O prometer e o cumprir, independentemente, andam juntos, é dever. Imaginemos o casamento: noivos que se casam e promessas feitas: ‘Vou casar-me com ela (e) para fazê-la (o) feliz’. Mas, ao contrário, dizemos: ‘Vou me casar com ela (e) para ser feliz, caso não dê certo, me separo’. Como se vê, prevalece o egoísmo, o individual. Até quando se dará isso? Deve prevalecer o conjunto, nos aliar à convivência. Desafios virão hoje e sempre. Haja sentimentos, reflexões e meditações para o óbvio. Renunciar um para o bem do outro e ambos, para o entender-se mais. Nossa preocupação maior deve ser o viver. Como viverão juntas as famílias? Aceitam-se desde já? Ao celebrar [o casamento], prendem-se às fotos, às flores, ao “book”, aos arranjos, às mesas e cadeiras, aos convidados, aos padrinhos. Esquecemos o divino, o espiritual que há e que exige o matrimônio. Tudo isso enfraquece a relação. Forte dosagem de renúncias – de ambas as partes – vai enriquecê-la. Aí tende a permanecer firme e perdurará e se ajustará. A traição não constitui tão somente no conceito sexual, ela é abrangente, por exemplo, traições incontidas ou desconhecidas: o consumismo, a negligência, a insatisfação, a ganância, a gula e outros. AC – Como vocês vivem o ministério diaconal? (Uma vez que a esposa também é chamada à participação neste serviço…). MeC: A priori dialogando. Eu, acelerando; Ela, pé no freio. O diálogo ajuda a não perder o foco “família”. Na nossa ótica, a unidade prende-se a tudo fazermos juntos. É na oração, na celebração, no lazer, no alimentar-se, na formação, no social. Nas comunidades, lá estamos. Geralmente, eu [Moura] dirijo. A deixo na ida e, na volta, a pego. Coerentes e prudentes, um alertando o outro, ao ouvinte, falar somente o que vivemos. Testemunhar, com a vida, aquilo que pregamos é meta, desafio. Desde nossa pretensão ao diaconato, quando, com Dom Fernando, nos cobrava a estimular o atuar juntos e dizia-nos da necessidade de fazer-se uma família diaconal, englobar os filhos ao nosso trabalho e, pretendíamos, mas, casados, está tornando-se difícil. Precisamos de formação, não um acumular de conhecimentos, mas os necessários para o exercício nas funções que, ora, desenvolvemos. Dom Gilberto nos faz os mesmos [questionamentos] como Diáconos e esposas, ou membros da Escola Diaconal: um casal motivado, e nos vemos em formação para a diaconia territorial. Instruídos por nosso pároco, trabalhamos dando suporte as comunidades do Planalto, Popôs e Leite, especial, a estreitarmos a comunicação entre comunidade, paróquia e diocese, formando assim uma Diocese, uma Paróquia, comunidade de comunidades. (Casal Moura com os filhos e noras. Foto: Reprodução) AC: O que é indispensável para um bom casamento? E como superar as eventuais crises? MeC: São tantas as coisas essenciais, necessárias ou indispensáveis… Porém, a mais forte, a que nunca deve faltar, nem sequer diminuir, como já nos diz 1Cor 13, é o amor. Não um amor frio ou qualquer, mas o amor ágape. Somente com ele podemos tudo. Diferente daquele interesseiro, aventureiro, incoerente ou imprudente, mas aquele que perdoa, aceita, concilia e suporta. O inquebrantável amor, segundo São Paulo, ainda precisará de reforços para o dia a dia: diálogo, renúncia, o zelo de um pelo outro no uso constante do perdão. E tendo o leito conjugal não tão somente como o local para o sexo, mais usá-lo também como lugar de reconciliação, de orações e, a partir destas, chegar ao entendimento necessário para cada dia. E aí, sim, o sexo será até mais agradável a ambos. Inclusive, Deus se faz presente, pois onde existe amor e perdão, ele está e permanece. Diz-se que “a cada noite sem perdão, o inimigo coloca tijolos e massa, e quando menos se espera a sua construção acaba, e com ela, seu casamento”. Nossa confiança é tamanha a ponto de saber, ainda que seja voraz o inimigo, a misericórdia de Deus é infinita e não se cansa até abundantemente chegar a todos nós. AC: A televisão, o celular e o computador (principalmente quando é grande o uso das redes sociais) muitas vezes acabam por impedir um diálogo entre os membros da família. É possível superar isso? Como? MeC: Aqui entra mais uma vez o diálogo, o testemunho, a coerência e a prudência, requisitos que devem ser utilizados pelos pais de uma geração, que vivem num mundo hoje diversificado, que tudo querem em demasia. As informações chegadas ao mesmo tempo, correria maior pela sobrevivência, compras excessivas, num consumismo desenfreado e tantas outras, sequer conseguiríamos enumerá-las. Mas, se mesmo assim fazendo, tiverem vez por outra um diálogo, um tempo suficiente, para com os filhos, eles se comportarão e haverá uma família salva e até exemplo para outras, que se espelharão nesse mesmo patamar. Agora, se, do contrário, os filhos virem seus pais usando todos esses meios em demasia, mesmo sendo por boa causa (as ferramentas do seu trabalho) e não lhes derem a devida atenção (através do diálogo, com amor e carinho, alicerce primordial dos pais para com seus filhos), estes irão isolar-se ou adoecer, roer as unhas, protestar, dispersar-se, e aí aparecem as drogas, as depressões, as revoltas, as ruas. A família deve ser prioridade a todos e, nesse patamar, será sempre um mal a sociedade e ao mundo. Está aí o impedimento a superação e o como sair do individualismo, que nos levam esses meios, sem esfacelarmos a célula máxima da sociedade e do mundo, que é a família. (Nestos do casal: avós comunicam o patrimônio de humanidade e fé, segundo Papa Francisco. Foto: Reprodução) AC: Que mensagem o casal deixa para os jovens desiludidos com a ideia de casamento, compromisso e família? MeC: É de que nada está perdido e nada pode estar tão bem que não possa ser melhorado, mudado. É o que está acontecendo conosco, com a sociedade hoje. Vemos as coisas como se tudo estivesse bem, como se tudo fosse normal. E não são bem assim as coisas. Elas devem se ornar bem umas para com as outras. O mesmo deve acontecer conosco, seres humanos: temos que estar bem com todos, especialmente, com o nosso próximo. Eu não posso ser bom acolhedor na minha comunidade rural ou central e ser péssimo acolhedor em minha casa, ter maus relacionamentos com a minha esposa, com os meus filhos, seria incoerência da minha parte. E é o que acontece hoje, nesse mundo virado de cabeças para baixo. Retorno às correrias, aos consumismos e outros que desfalecem a nós todos. Uma sociedade inteira que joga o irmão da escada da vida, para, ai subir, tomar o seu emprego. Na empresa, no trabalho, ele é sempre o bonzinho, o capacitado e, em casa, descarrega nos seus toda aquela carga que nem mesmo ele a suporta, porque as faz, muitas vezes, de forma inconsciente. Precisamos nos modernizar, sair de nós para a superação e não nos deixarmos ao comodismo, sem esquecer que somos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, templo e espaço do Espírito Santo, dignidades recebidas no Batismo e para toda a nossa vida. Temos ainda a tríplice missão, oriundas do mesmo Sacramento, esta porta que nos leva a ser igreja: sacerdote, profeta e rei. Assim como Jesus Cristo, também somos. Portanto, cresçamos em sabedoria, idade e graça. Como ele fez e cresceu obediente aos seus pais, Maria e José. São estas posturas que vemos, não como solução radical, mas que irão ajudar – em muito – os nossos comportamentos. Com essas visões ou mudanças de hábitos, haveremos de ter um mundo melhor, uma sociedade mais justa e adequada ao hoje. Daí, teríamos um comprometimento sólido, eficaz, padrão e positivo. Consequentemente, o jovem não teria mais o medo ou receio de casar-se, mas queria, a rigor, ter sua esposa e seus filhos e, assim, formar uma família, um lar, para termos uma sociedade sólida e capaz da aceitar a todos, independente de raça, cor ou posição social, aquela tão sonhada por Deus, quando se fizera um como nós e viveu em uma família, no Lar de Nazaré.