Dom Murilo: cresce consciência de que corrupção não pode mais ser tolerada


Dom Murilo: cresce consciência de que corrupção não pode mais ser tolerada


Desde o ano passado, as movimentações em torno do pleito eleitoral de 2018 já fazem parte da agenda do país. Eventos, pessoas, partidos e entidades debatem a realidade brasileira e tentam apontar soluções para os desafios nacionais. O arcebispo de Salvador (BA) e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Muilo Krieger, analisa este período que antecede a oficialização das candidaturas aos executivos e legislativos federal e estaduais.


“Se a partir dos debates crescer a consciência de que é preciso um verdadeiro mutirão, envolvendo não só políticos, mas toda a sociedade civil, para dar um novo impulso ao nosso país, ótimo!”, pontua dom Murilo. Para ele, “não podemos continuar com os índices atuais de desemprego; é ruim para todos, mas muito mais para os pobres. Além disso, cresce a consciência de que a corrupção não pode mais ser tolerada; ela é um câncer que destrói o país a partir de dentro”.


Confira a entrevista:



Dom Murilo Krieger, vice-presidente da CNBB | Foto: arquidiocese de Salvador


Neste ano, há muita movimentação em torno das pré-candidaturas, principalmente em vista da Presidência da República, com eventos, sabatinas, entrevistas e expectativa em torno daqueles que devem disputar o Planalto. É um momento diferente que o Brasil vive na sua política? Qual a sua avaliação?


Dom Murilo: Toda essa movimentação em tempos de pré-candidaturas é normal e faz parte do “jogo” da democracia. Quem viveu os tempos da ditadura militar se lembra que algumas candidaturas – refiro-me às do partido que expressava o pensamento de quem comandava o país – nasciam em gabinetes e eram impostas. Os tempos atuais são marcados por algumas particularidades: uma multiplicação de partidos sem expressão alguma, que tentam negociar seu limitado tempo na televisão – tempo que, repito, é limitado, mas que somado ao “limitado tempo” de mais alguns partidos inexpressivos, torna-se importante. Infelizmente, o povo, em geral, é um mero assistente desse processo, com quase nenhuma participação na escolha dos candidatos. Mesmo quem está filiado a algum partido, acaba apenas sacramentando os nomes que a cúpula escolheu. De certa forma, continua, ao menos em parte, a escolha feita em gabinete pelos que dirigem os partidos.


Toda a movimentação que tem sido feita por grupos sociais, empresariais e meios de comunicação tem trazido ao debate as reais demandas e problemáticas do país?


Dom Murilo: A época pré-eleitoral é excelente para conhecermos a realidade do país, pois todos os que desejam se candidatar mostram problemas e necessidades aos quais prometem dar uma resposta adequada. Se a partir dos debates crescer a consciência de que é preciso um verdadeiro mutirão, envolvendo não só políticos, mas toda a sociedade civil, para dar um novo impulso ao nosso país, ótimo! Não podemos continuar com os índices atuais de desemprego; é ruim para todos, mas muito mais para os pobres. Além disso, cresce a consciência de que a corrupção não pode mais ser tolerada; ela é um câncer que destrói o país a partir de dentro. Interessante que quando o povo se manifesta sobre o país que deseja, não diz que quer um país em que todos sejam ricos e famosos, mas que quer um país em que todos tenham os mesmos direitos, e que os direitos de todos sejam respeitados, em que se respeita os bens públicos etc.


Neste foco às pré-candidaturas presidenciais não estamos perdendo oportunidade de conhecer e debater candidaturas, propostas e finalidades no âmbito do Legislativo?


Dom Murilo: Aqui estamos diante de um problema sério: as atenções se voltam e quase se fixam nos candidatos à Presidência da República e nos candidatos ao governo do Estado. O problema é que, nessa situação, “velhos” políticos – muitas vezes “velhos” também nos defeitos – conseguem se candidatar, têm grandes possibilidades de se reeleger como deputados e senadores, com o risco de tudo continuar como antes. Será importante que as comunidades convoquem candidatos para debates, apresentem valores que quer ver defendidos no Parlamento e votem com um cuidado especial naquele que será seu deputado estadual, deputado federal ou senador.