O bispo da diocese de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sociotransformadora da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB), dom José Valdeci Santos Mendes, participou da entrevista coletiva do 28º Grito dos Excluídos e Excluídas, dia 1º de setembro.
Este ano o lema é “Brasil: 200 anos de (In)dependência. Para quem?”, com o tema: “Vida em primeiro lugar”. O Grito dos Excluídos e Excluídas ocorre historicamente no dia 7 de setembro, escolhido como data fixa anual, para uma ação em rede, uma mobilização à reflexão crítica sobre o Dia da Independência.
O presidente da Cepast-CNBB ressaltou que falar do 28º Grito dos Excluídos e Excluídas leva a pensar e refletir sobre o conjuntura que está a viver o povo brasileiro. “Basta olhar a realidade que nós enfrentamos: a situação dos povos negros, das comunidades quilombolas, dos negros que estão nas periferias que ao longo desta história foram sempre deixados de lado”, lembrou.
Segundo o bispo, a realização 28º Grito leva a pensar nos povos indígenas que hoje têm os seus territórios ameaçados e violados com os garimpos ilegais.
“Isso causa preocupação, sem falar de todo o veneno que é lançado nesses territórios. Estou pesando nas políticas públicas que não chegam às periferias urbanas e às nossas comunidades rurais, que não chegam às comunidades tradicionais. Estou pensando nas violações de direitos, direitos que têm sido pisoteados e negados, principalmente nestes últimos anos. Estou pensando na democracia que está sendo ameaçada, principalmente nestes tempos atuais”, salientou dom Valdeci.
Compromisso com a vida e com toda criação
Por outro lado, conforme o bispo, o Grito dos Excluídos e Excluídas, é um momento importante de retomada da luta e compromissos, sobretudo, “com a justiça e com o direito. Para dom Valdeci, a realização do Grito “leva a pensar numa sociedade que resiste, a pensar numa sociedade que é capaz de construir um espaço democrático, um espaço fraterno, um espaço que nos leva de fato, a vivenciarmos entre nós e com todas as comunidades tradicionais, com os povos indígenas, as comunidades quilombolas a construir uma solidariedade sólida”.
O bispo ressaltou que “o Grito dos Excluídos e das Excluídas leva a um compromisso com a vida humana, mas também com a Casa Comum e com toda a criação”. Ele convidou a “juntar as vozes, de todos os cantos e recantos do nosso país para dizer que a vida deve estar em primeiro lugar: a vida humana e a vida de toda a criação”.
Dom Valdeci lembrou que o Grito dos Excluídos e Excluídas nasceu da 2ª Semana Social Brasileira (1993-1994) da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa edição teve como tema, Brasil: alternativas e protagonistas. “As Semanas Sociais trazem essa garra, essa resistência, esse dizer que estamos juntos e juntas para lutar por uma sociedade justa e fraterna […]. Que o nosso Grito seja uma convocação permanente, um Grito que atinja, mais do que isso, que cause transformação numa sociedade tão injusta. Esse Brasil que está aqui, não é o Brasil que queremos, o que queremos de fato, é que prevaleça a justiça, a solidariedade e, sobretudo, uma democracia sólida, uma democracia participativa”, reforçou.
“Estava pensando esses dias, por 200 anos nos passaram uma história, uma mentira do grito de independência do Brasil. […]. Eu diria que o nosso Grito hoje, não vem de alguém que está montado num cavalo, às margens do rio, mas o nosso Grito é com os excluídos e excluídas, o nosso Grito é também o Grito do rio que está sendo aterrado, que está sendo envenenado, é também o Grito das florestas que estão sendo derrubadas, é também o Grito de tantos irmãos e irmãs que lutam por vida e vida com dignidade. Eu diria também que o nosso Grito vem do nosso coração, do coração que está em nosso corpo, e não, com todo o respeito, um grito que vem do coração que vai passando de mão em mão”, discorreu dom Valdeci. Ele lembrou ainda que está sendo realizada a 6ª Semana Social Brasileira (2020-2023), que traz como tema Mutirão pela vida: por terra, teto e trabalho, e convida e unir forças na luta para “dizer que a vida deve prevalecer”.
Confira, no mapa, onde acontecerá ações do Grito dos Excluídos.