Reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos sólidos norteiam a edição da cartilha de saúde ambiental para povos indígenas “Preservando Nossa Casa”. O manual foi produzido pelo projeto Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras, da rede Cáritas, durante a execução de projeto piloto para gerenciamento de resíduos sólidos na comunidade indígena Tarau Paru, no município de Pacaraima, estado de Roraima e que contou com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional – USAID.
Disponibilizada em três idiomas: português, espanhol e Taurepang, a cartilha de saúde ambiental atendeu um pedido da comunidade, que desde 2019 acolhe integrantes do seu povo Taurepang-Pemon, que deixaram o território venezuelano para refúgio no Brasil. Dos 946 residentes na comunidade hoje, 607 são migrantes ou refugiados.
O coordenador nacional de monitoramento do Orinoco e sociólogo Wellthon Leal, explica que a cartilha é um produto ímpar, diante à crise climática e a consequente responsabilidade sobre a conservação ambiental e melhor convivência com o meio ambiente.
“Nós temos certeza absoluta que os povos originários sempre conseguiram ter essa relação de maneira correta. Portanto, esse projeto não tem apenas a intenção de resgatar e melhorar o tratamento dos lixos nas comunidades, tem também a função de ajudar na solidificação da língua indígena Taurepang”, comentou Leal.
Preservando Nossa Casa tem 27 páginas, todas ilustradas, com textos que fortalecem o pertencimento do território indígena ao seu povo originário e com jogos educativos sobre saúde ambiental. A cartilha foi lançada no último dia 16 de março, data que celebra o Dia Nacional da Conscientização das Mudanças Climáticas, na comunidade Tarau Paru.
“Muito bom o material. Adorei! Vai ajudar muito na orientação na comunidade, principalmente as crianças. Estou muito agradecido pelo trabalho que a Cáritas está fazendo pela minha comunidade”, comentou o líder da comunidade, tuxaua Aldino Alves.
Conforme apontou Wellthon Leal, o próximo passo da Cáritas é disponibilizar mais duas versões do livro nas línguas Macuxi e Wapichana.
“Manter uma língua viva, mesmo com todo processo de colonização, é manter a história e cultura de resistência viva entre os povos originários. Nosso objetivo é contribuir para o fortalecimento dessas comunidades, na sua autonomia e preservação cultural. Queremos que essa cartilha seja um produto que ajuda a preservar a cultura, memória e a natureza de mais comunidades indígenas de Roraima”, concluiu.
Acesse e baixe aqui a publicação: “Preservando Nossa Casa”
Projeto-piloto de resíduos sólidos
O projeto piloto de resíduos sólidos teve início no segundo semestre de 2021, como parte das ações do Orinoco no estado de Roraima. A ação trouxe alternativas ideais do ponto de vista ambiental e sanitário, e também as alternativas possíveis de serem executadas e aceitas pela comunidade que mais recebeu migrantes e refugiados indígenas venezuelanos.
A assessora local de monitoramento do Orinoco, Aline Nogueira, explicou que o projeto piloto se iniciou, primeiramente, com a elaboração de dois diagnósticos técnicos: um para identificar a composição dos resíduos sólidos gerados e a destinação final; e o segundo para especificar as possíveis estratégias de promoção de cuidado em saúde ambiental.
Aline destaca que esses dois diagnósticos subsidiaram a elaboração e execução de todas ações estruturais e estruturantes realizadas.
“Do ponto de vista estrutural, foi proposto o modelo de coleta seletiva com a implantação de Pontos de Entrega Voluntária pela comunidade, a compra e disponibilização de três bicicletas elétricas para garantir a coleta, a construção de um galpão de armazenamento de resíduos recicláveis segregados e a implantação de uma área adequada para disponibilização dos resíduos não recicláveis e não perigosos”, detalhou a assessora.
Enquanto que as ações estruturantes desenvolvidas foram: duas oficinas sobre compostagem e de fabricação de sabão artesanal, reutilizando o óleo de cozinha; mutirão de recolhimento dos resíduos destinados ao local inadequado da comunidade; palestras para promoção de saúde ambiental, e por fim, a elaboração e lançamento da Cartilha Preservando Nossa Casa.
O projeto foi baseado nas diretrizes da Lei Federal nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e construído de forma coletiva com a comunidade de Tarau Paru, liderada pelo tuxaua Aldino Alves.
Projeto Orinoco
O projeto Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras está presente no Acre, Pará, Piauí, Rondônia e Roraima. É uma ação da rede Cáritas e conta atualmente com o financiamento do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América. Essa ação realizada em Tarau Paru marcou o encerramento da segunda fase do projeto, que contava com o apoio do Escritório de Assistência Humanitária da Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional – BHA/USAID.
Em três anos de atuação, o projeto já beneficiou mais de 17 mil migrantes em Roraima. No estado, a Cáritas Brasileira construiu instalações WASH, que são espaços de acolhimento e promoção de acesso à água, saneamento e higiene, para atender a população de rua, além de estar presente e promover melhorias em ocupações espontâneas e em território índigena. O projeto também está inserido na promoção de direitos de migrantes e refugiados, oferecendo acesso à informação sobre direitos, entre outras atividades ligadas à integração desse público.
Com informações da Cáritas Brasileira
Foto de capa: Andreia Carolis, a primeira criança indígena Taurepang a receber a cartilha Preservando Nossa Casa. Foto: Emmily Melo/Cáritas Brasileira