Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
A celebração do 12º Mutirão de Comunicação (12º Muticom), em Belo Horizonte, organizado pela Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, inaugura um novo ciclo para a ação missionária da Igreja Católica neste país-continente. O poder da tecnologia impulsiona um grande momento de mudança, ampliando a capacidade que temos para constituir presença – graças às inovações nos ambientes digitais que têm alcançado proporções antes inimagináveis. Uma realidade que permite criar eventos da magnitude e singularidade do 12º Muticom. O poder de reunir uma grande comunidade, para além do que fisicamente seria possível, remete a novas configurações para se estabelecer o diálogo e criar oportunidades de partilhas com força de transformação. Mudanças que anunciam: a sociedade deve se preparar para um mundo novo.
A Igreja Católica no Brasil, em sintonia com o rico e bem articulado horizonte da comunicação da Igreja no mundo, está desafiada a se deixar interpelar pelas reflexões promovidas pelo 12º Muticom. É característica do cristianismo dialogar com os processos de transformação cultural de cada tempo, sem se deixar contaminar por modismos. Por isso, ao longo da história, o cristianismo tem oferecido seus valores inegociáveis e princípios insubstituíveis. Aos que professam a fé cristã, não é suficiente defender o seu patrimônio doutrinal intocável. É preciso avançar, oferecendo respostas existenciais e culturais significativas aos problemas que surgem a cada tempo. Inscreve-se, assim, na identidade cristã a abertura intercultural. Na contemporaneidade, as transformações promovidas com as novas tecnologias geram novos ecossistemas. O ser humano e, consequentemente, a Igreja, precisam estar preparados para viverem e atuarem nesses ambientes que estão se constituindo.
As mudanças, para serem compreendidas, pedem análise interdisciplinar. Nessa perspectiva, o 12º Muticom detalha a necessidade de se buscar uma comunicação integral que, inclusive, deve considerar o protagonismo de agentes não-humanos. A evolução da conectividade faz cair a ideia ocidental de sociedade. A concepção que prevaleceu por diferentes eras, vinda da antiga Grécia, é confrontada pela realidade. A conferência de abertura do 12º Muticom enfatiza: não há espaço para a concepção de mundo que separa a humanidade da natureza e da técnica. Essa concepção que perdurou até a era moderna constituiu a linguagem predominante na contemporaneidade. Para que os problemas atuais sejam superados, essa linguagem precisa se atualizar.
Sem avanços sobre a compreensão do mundo, as mudanças em curso vão gerar ainda mais estranhamento, prevalecendo seus aspectos enigmáticos. Assombram e preocupam as reviravoltas contínuas das economias e dos mercados financeiros, além das consequências de impactantes inovações tecnológicas. Essas e outras aceleradas transformações provocam um sentimento de insegurança e de impotência, sensações que levam ao ocaso de uma vigente ideia de mundo. Sublinhe-se: não é, afirmam os cientistas, o fim do planeta, mas o fim de uma determinada concepção sobre o mundo. Na pauta da humanidade está o desafio da recriação – um novo mundo possível. E o cristianismo não pode ficar de fora desse processo de reconstrução, pela solidez de tudo que sempre ofereceu na trajetória da humanidade.
A pandemia, as mudanças climáticas e as redes digitais, juntas, apontam para o protagonismo dos não-humanos na configuração da realidade. Mostram o advento de um tempo singular de conectividade, não somente entre pessoas. Não há manuais para lidar com essa nova realidade, reconhecida ao observar as consequências da pandemia – um vírus invisível revelou ser ator poderoso na definição dos rumos da civilização contemporânea. Colocou abaixo as economias do planeta, transformou hábitos, impôs limitações nas liberdades, promoveu mudanças ecológicas e transferiu instâncias de decisão – de autoridades políticas para cientistas que, cada vez mais, formulam seus pareceres a partir de dados obtidos por processos de automatização. O 12º Muticom da Igreja no Brasil, a partir da interpelação de conferencistas e pesquisadores, alerta: a linguagem, forma de compreensão da realidade, merece redobrado cuidado. O caminho é investir em contínuo aprendizado para vencer modelos obsoletos de interpretação e, assim, conseguir lidar com as grandes mudanças deste tempo. Por isso, todos acolham a convocação: é hora de ser aberto um novo ciclo na comunicação da Igreja, construído em diálogo com as transformações da civilização contemporânea.