Laura De Luca – Vatican News
Uma das passagens da encíclica Fratelli tutti do Papa Francisco nos leva imediatamente à palavra “irmãos”:
“Se esta afirmação – como seres humanos, somos irmãos e irmãs – não ficar pela abstração mas se tornar verdade encarnada e concreta, coloca-nos uma série de desafios que nos fazem mover, obrigam a assumir novas perspectivas e produzir novas reações”.
Papa Paulo VI
Por ocasião da Missa do IV Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro de 1971, Paulo VI falou sobre a palavra “irmãos”. Conceito sintetizado quatro anos antes, na encíclica Populorum Progressio ao afirmar que o desenvolvimento (o desenvolvimento de todos os povos, indiscriminadamente) é o novo nome para a paz.
“O Senhor pregou-nos uma verdade: todos vós sois irmãos. Temos, nós, esta ideia da fraternidade universal? Sim e não. Falamos muitas vezes dela pensando que é boa, mas utópica, isto é, que não se pode realizar; que se trata de um bonito sonho, mas sem aspectos práticos, que não pode ser aplicado à realidade concreta. Mas nós somos os primeiros a devermo-nos persuadir que a fraternidade deve ser a lei, o princípio e o critério dominante das relações entre os homens. Devemo-nos tornar irmãos, se ainda não o somos; devemo-nos habituar a ver — o Evangelho há muitos séculos nos declara e nos diz, mas somos quase refratários a esta lição — no vulto humano do próximo, como que um espelho do nosso, a ver ‘nós mesmos’ nos outros. Disse-nos o Senhor: ‘Amai-vos uns aos outros, como a vós mesmos’. Quer dizer: devemos transferir aos outros aquele sentimento de personalidade, que é exatamente o que nos define a nós mesmos, o nosso eu; devemos compreender-nos nos outros. (…) É esta a grande política humana e cristã do mundo. Devemo-nos habituar a ver nos homens, não antagonistas, inimigos, rivais ou concorrentes, mas irmãos”.
Pio XII
Depois há outra maneira de falar de fraternidade. E é a partilha da dor: quando estamos todos “no mesmo barco”. Como nos dias da pandemia, como na tragédia de uma guerra que se aproxima… Assim se expressou o Papa Pio XII em 24 de agosto de 1939 quando, em nome da comum descendência do mesmo Pai, lançou uma radiomensagem para evitar a guerra que, em vez disso, abalaria a humanidade por cinco longos anos…
Nós, armados apenas da palavra de Verdade, acima das competições públicas e das paixões, vos falamos em nome de Deus, do qual toda a família, nos Céus e na Terra, toma o nome (Ef 3, 15) —de Jesus Cristo, nosso Senhor, que a todos os homens quis irmãos — do Espírito Santo, dom de Deus altíssimo, fonte inesgotável de amor nos corações.
João XXIII
Mas é novamente na mesma mesa, ou seja, ao compartilharmos a mesma comida, que realmente medimos a fraternidade recíproca. Neste sentido, “fraternidade” é uma expressão concreta. O Papa João XXIII em sua Radiomensagem para a Páscoa de 1959, quando populações inteiras ainda sofriam as consequências da guerra e lutavam para retomar uma vida digna, falou ao povo. Que a invocação “nos dê hoje nosso pão de cada dia” inclua no adjetivo “nosso” precisamente o pensamento aos nossos irmãos.
“Este deve ser, antes de tudo, um pão nosso, ou seja, pedido em nome de todos. ‘O Senhor – adverte São João Crisóstomo a este respeito – ensinou no Pai a dirigir-se a Deus também em nome dos irmãos. E quer, em outras palavras, que não se levantem súplicas a Deus, em nome de seus próprios interesses, mas também os do seu próximo. Desta forma, ele pretende combater a inimizade e reprimir a arrogância“.
João Paulo II
E foi precisamente o pão, o pão nosso de cada dia, que o Papa João Paulo II compartilhou concretamente, sentado muitas vezes à mesa com os pobres. Em 3 de janeiro de 1988 no Asilo de Santa Marta, nos opulentos e hedonistas anos Oitenta ele chamou os pobres de irmãos, porque o próprio Jesus foi o primeiro a considerá-los irmãos.
“Devemos procurar maneiras de melhorar a vida porque todos temos consciência do que Jesus Cristo significa: Deus-homem, Deus que se tornou um de nós, nosso irmão. Sabemos também que no fim do mundo, ele será nosso juiz, nosso irmão. E este julgamento será sobre como soubemos ser irmãos uns dos outros. Assim sendo irmãos para os outros, para pessoas diferentes, especialmente para os que sofrem, para os pobres, seremos também irmãos para ele. (…)
Bento XVI
“Ver no outro, seja ele quem for, como um membro da mesma família, é um caminho necessário, urgente, mas também difícil”. É o apelo do Papa Bento XVI à mãe de todos nós no final da visita à casa “Dom de Maria” dos Missionários da Caridade no Vaticano, em 4 de janeiro de 2008…
“A Virgem Maria, que se entregou totalmente ao Omnipotente e foi cheia de todas as graças e bênçãos com a vinda do Filho de Deus, nos ensine a fazer da nossa existência um dom quotidiano a Deus Pai, no serviço aos irmãos e na escuta da Sua palavra e da Sua vontade. E como os santos Magos vindos de longe para adorar o Rei-Messias, ide também vós, queridos irmãos e irmãs, pelos caminhos do mundo”.