Depois de três semanas de trabalho, encerrou-se hoje, dia 27 de outubro, o Sínodo para Amazônia com uma missa presidida pelo Papa Francisco, na Basílica de São Pedro. Participaram da celebração os padres sinodais e demais integrantes do Sínodo, como representantes indígenas e especialistas em Amazônia.
Durante a missa, o Santo Padre agradeceu a participação de todos os envolvidos na realização da Assembleia Sinodal. “Foi bom e vos agradeço, queridos padres e irmãos sinodais, por termos dialogado, nessas semanas, com o coração, com sinceridade e franqueza, colocando fadigas e esperanças diante de Deus e dos irmãos”, afirmou.
“Neste Sínodo, tivemos a graça de escutar as vozes dos pobres e refletir sobre a precariedade das suas vidas, ameaçadas por modelos de progresso predatórios. E, no entanto, precisamente nesta situação, muitos nos testemunharam que é possível olhar a realidade de modo diferente, acolhendo-a de mãos abertas como uma dádiva, habitando na criação, não como meio a ser explorado, mas como casa a ser guardada, confiando em Deus. Ele é Pai e – diz ainda Ben Sirá – «ouvirá a oração do oprimido» (35, 13). Quantas vezes, mesmo na Igreja, as vozes dos pobres não são escutadas, acabando talvez vilipendiadas ou silenciadas porque incômodas. Rezemos pedindo a graça de saber escutar o clamor dos pobres: é o clamor de esperança da Igreja. Assumindo nós o seu clamor, também a nossa oração atravessará as nuvens”.
Homilia
Na homilia, o Papa Francisco alertou sobre a atitude do fariseu no Evangelho de Lucas (18,9-14), que durante a oração apenas destaca as leis que seguiu: “o fariseu vangloria-se porque cumpre do melhor modo possível preceitos particulares. Mas esquece o maior: amar a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40). Transbordando de confiança própria, da sua capacidade de observar os mandamentos, dos seus méritos e virtudes, o fariseu aparece centrado apenas em si mesmo. Vive sem amor. Mas, sem amor, até as melhores coisas de nada aproveitam, como diz São Paulo (cf. 1 Cor 13). E sem amor, qual é o resultado? No fim de contas, em vez de rezar, elogia-se a si mesmo. De fato, não pede nada ao Senhor, porque não se sente necessitado nem em dívida, mas com crédito. Está no templo de Deus, mas pratica a religião do eu”.
Devemos nos espelhar, segundo o Papa, na oração do publicano, que suplica piedade por ser pecador: “hoje, contemplando o publicano, descobrimos o ponto onde recomeçar: do fato de nos considerarmos, todos, necessitados de salvação. É o primeiro passo da religião de Deus, que é misericórdia com quem se reconhece miserável. Ao passo que a raiz de todo o erro espiritual, como ensinavam os monges antigos, é crer-se justo. Considerar-se justo é deixar Deus, o único justo, fora de casa”.
Angelus
Logo após a missa de encerramento do Sínodo, na oração do Angelus, o Papa Francisco também falou sobre o trabalho no Sínodo para Amazônia: “o clamor dos pobres, juntamente com o da terra, chegou da Amazônia. Após essas três semanas, não podemos fingir que não ouvimos. As vozes dos pobres, juntamente com as de muitos outros dentro e fora da Assembléia do Sínodo – pastores, jovens, cientistas – nos pressionam a não permanecer indiferentes. Muitas vezes ouvimos a frase ”mais tarde, é tarde demais”. Não pode continuar assim como um slogan”.
“O que foi o Sínodo? – questionou o Papa já com uma resposta – Foi, como a palavra diz, uma caminhada juntos, consolada pela coragem e consolações que vêm do Senhor. Caminhamos olhando nos olhos um do outro e ouvindo um ao outro, sinceramente, sem esconder as dificuldades, experimentando a beleza de seguir em frente juntos, para servir”.
Por fim, o Papa Francisco pediu a proteção de Nossa Senhora: “invoquemos a Virgem Maria, venerada e amada como Rainha da Amazônia. Tornou-se não conquistadora, mas “inculturada”, com a humilde coragem de sua mãe, tornou-se a protetora de seus filhos, a defesa dos oprimidos. A ela, que cuidou de Jesus na casa pobre de Nazaré, confiamos as crianças mais pobres e nosso lar comum. Ela, uma mulher de esperança, pode interceder para que o Espírito Santo desça sobre nós, que com sua doce criatividade torna todas as coisas novas”.
Manuela Castro – Cidade do Vaticano