Em artigo publicado o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, fala sobre os acontecimentos da vida, que segundo ele além de ser uma escola, são lições. Por isso, no texto, ele afirma que é muito comum ouvir o dito popular “vivendo e aprendendo”. “As lições são muitas e o desafio maior é aprendê-las. Só as aprende quem se coloca no lugar de aprendiz”, coloca o bispo.
Consequentemente, no artigo intitulado “Lições, Brasil”, dom Walmor diz que há o travamento das dinâmicas que promovem as evoluções na compreensão. Para ele falta lucidez para a solução dos problemas e a sociedade permanece ameaçada pelos extremismos. Nesse contexto, o bispo afirma que convive-se ainda com desmandos e corrupção. “. Falta vergonha aos que se permitem usufruir de privilégios, que alimentam exclusões e discriminações. Eis a névoa que confunde as feições e paira sobre a sociedade brasileira, obscurecendo a verdade e tornando a mentira a protagonista da história”, diz.
O arcebispo reitera que as coisas não deveriam ser assim, pois a sociedade brasileira, em seus mais de cinco séculos de história, já deveria ter assimilado muitas lições. Mas, de acordo com ele, a incapacidade para aprender pode explicar o desenvolvimento pífio do país. “Se as lições da história fossem aprendidas, a classe política brasileira poderia, agora, ajudar o Brasil a sair do caos dos desencontros e aproveitar melhor as oportunidades deste tempo, valendo-se das riquezas ambientais e culturais da nação”, diz.
Ao invés disso, dom Walmor afirma que vê-se um pavoroso “bate-cabeça” entre os que ocupam os lugares de lideranças sem serem líderes. Para ele, a consequência é a disseminação de um jeito de ser que contamina também os espaços políticos. “A demagogia torna-se a tônica principal, contracenando com a desconfiança e os ataques mútuos”, confessa.
Os posicionamentos polarizados, quando se transformam em hostilidades, segundo ele, ferem ‘visceralmente’ o andamento da vida do povo, enfraquecem as indispensáveis alianças, obscurecem os diálogos e instalam o caos. “Há uma completa perda do sentido de limite. A insistência nos equívocos e as miopias que impedem enxergar as soluções agravam os problemas e multiplicam os pesos sobre os ombros de todos. Assim, o cidadão se distancia das lições que o possibilitariam ajudar na construção de um país melhor. Passa-se a enxergar apenas a própria causa, a considerar como único e intocável o discurso que se defende. O resultado é a gravíssima perda da sensibilidade para se abrir a uma inadiável dinâmica de conversão, capaz de inspirar atitudes com força de mudanças”, argumenta.
Sem os aprendizados necessários, dom Walmor diz que as pessoas se contentam apenas com o conforto institucional do lugar ocupado e seus privilégios – “a incapacidade para se colocar no lugar do outro, a quem se deveria servir e ajudar”. Para mudar essa postura, segundo ele, devem-se habilitar os olhos para enxergar além dos próprios interesses e comodidades. “Admitir que o exercício qualificado da cidadania não pode conviver com os conchavos, os privilégios e a busca por vantagens a partir da corrupção”.
No final do artigo, o arcebispo anuncia que a sociedade brasileira clama precisada de um novo ciclo de aprendizagens das muitas lições que estão inseridas em sua história. “As instituições e segmentos da sociedade carecem de gestos corajosos para aprender, por meio do diálogo, a cuidar do bem comum a todo custo. A transformação do país, para conseguir sair dos limites perigosos a que chegou, exige de todos um gesto de conversão, bem concreto”. E finaliza: “É preciso modificar funcionamentos para recuperar a credibilidade perdida, importante para o urgente processo de mudança: um tempo novo para o aprendizado das lições, Brasil!”.