A POLÍTICA BRASILEIRA: – Embora sejam poucos os bons exemplos de quem a exerce, não há dúvida de que, na essência, ela é UM BEM PARA TODOS. Sim, porque política é, originalmente, um modo de pensar e conviver em sociedade, com um objetivo saudável e comunitário, isto é, o BEM DA PESSOA HUMANA EM SOCIEDADE, o BEM COMUM (João XXIII, Pacem in terris, 54; Gaudium et Spes, 26). Daí que, na política, não importa a diversidade de pensamentos ou posição, o que importa é o objetivo para o bem comum. Por isso já se disse que política é a convivência sadia dos pensamentos/manifestações contrários. O importante é que sempre brote em nós o desejo de um bem, UMA EXIGÊNCIA DE VALORIZAÇÃO DO OUTRO, como pessoa humana, IMAGEM E SEMELHANCA DE DEUS (Catecismo da Igreja Católica, 1700).
Quando pensamos no nosso Brasil, nosso desejo não pode ser outro, a não ser de manter RELAÇÕES JUSTAS E FRATERNAS entre pessoas e grupos, de redescobrirem, de conversarem e de se indignarem com os desvios de conduta que, tristemente, terminam em corrupção, com a certeza da impunidade. Contudo, NÃO DEVEMOS DESANIMAR, MAS REANIMAR, fazer reflorescer o desejo de boas condutas pessoais e sociais que nos sustentam como bandeira da esperança e da liberdade humanas/ cristã, que fundamentam o espírito de uma verdadeira democracia.
POLÍTICA NÃO É UMA PROFISSÃO E NEM UMA HERANÇA FAMILIAR. Lamentavelmente, são muitos os profissionais políticos, mas carregamos um certo grau de culpa, pois somos nós que os elegemos. Precisamos considerar que, se reelegermos um candidato que se tornou profissional da política, estaremos afastando-nos do exercício do bem comum. Nenhum político servirá ao bem comum ou retomará o bom propósito, se continuarmos neste provinciano, colonial, falido e corrupto sistema político de eleger “salvadores da pátria”, “coronéis modernos”, pessoas mal-intencionadas, que discursam apenas para a ocasião e prometem o que não podem cumprir.
A MUDANÇA NO SISTEMA POLÍTICO, TRIBUTÁRIO, JURÍDICO, temas tão delicados e complexos, não passa apenas pelos que são eleitos, mas está inserida NA ATITUDE CIDADÃ de cada um de nós, que precisa educar-se para fazer da vida um serviço ao outro, na participação em trabalhos sociais e comunitários, que nos tornam verdadeiros agentes de transformação. É preciso, ainda, abrirmos espaços e descobrirmos momentos reais para atuarmos na vida pública de nossa Cidade, Estado e País. Faz-se necessária a participação nos Conselhos municipais, nas reuniões da Câmara Municipal, acompanhando discussões e votações no Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa, bem como fiscalizando os governos estadual e federal.
Nós, bispos, iniciamos a nossa mensagem da 56ª Assembleia geral da CNBB ao povo brasileiro, com a citação aos Hebreus (10, 23): “Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer”, por acreditarmos que as PRÓXIMAS ELEIÇÕES NOS PROVOCAM E DESAFIAM a termos esperança e a darmos razão de nossa fé como discípulos missionários. É o momento propício para que firmemos nossa posição e expressemos nosso “BASTA” àqueles que se servem da vida pública, através da política. Cristo Jesus nos chama a vivermos a vida pública à luz do Evangelho. Esse deve ser o nosso lema.
NÃO PODEMOS CAIR NO ENGANO DE ACREDITAR QUE VOTAR É APENAS MAIS UMA OBRIGAÇÃO E QUE NOSSO VOTO POUCO OU NADA ADIANTA.
É GRAVE OMISSÃO dizermos ou pensarmos: estou tão desacreditado que vou votar nulo ou em branco. Uma conduta enganosa assim só contribui para os mal-intencionados (João Paulo II, Christifideles laici, 42). Estejamos atentos para não corrermos o risco de apenas ficar reclamando depois, pois, se não nos interessarmos por participar da política agora, ela acabará sendo usada por pessoas que não se preocuparão com o bem comum, mas com seus interesses particulares, o que, inevitavelmente, gerará mais CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE.
A escolha daqueles que dirigem os nossos destinos na vida pública, tem que ser baseada em princípios cristãos. Precisamos de pessoas que incentivem o bem comum, promovam a vida desde o seu início até seu término natural e fortaleçam as organizações sociais, principalmente as que são modelo de serviço ao outro, de construção de comunidades verdadeiramente solidárias, de EXEMPLO DE VIDA CRISTÃ.
Por isso, com a consciência alicerçada nos princípios cristãos, VAMOS ELEGER PESSOAS QUE:
1 – Reconheçam e promovam O VALOR DA PESSOA HUMANA. Se possível, políticos que pertençam à nossa região, cuja família e trajetória de vida conhecemos. Esse pertencimento é fundamental para manter a retidão na vida pública e sabermos quem é de fato este candidato. Nesse sentido, as redes sociais e canais de consulta da internet podem ser aliados valiosos para nossa decisão.
2 – Saibam educar-se PARA TRABALHAR EM CONJUNTO. Queremos governos que respeitem a liberdade e a criatividade das pessoas, que valorizem as iniciativas sociais e que respondam às necessidades cotidianas. Não queremos governantes que acreditam que cabe somente a eles decidir o que é bom para todos.
3 – Candidatam-se porque possuem UMA TRAJETÓRIA DE VIDA PESSOAL comprometida com a superação da pobreza, com a educação, a saúde, a moradia, o saneamento básico, a promoção da vida e ao meio-ambiente. Não compram votos e nem barganham votos e licitações públicas, para depois recuperarem o que gastaram ou simplesmente enriquecerem-se ilegalmente.
Para eleger esse tipo de pessoa vamos:
1 – Observar se o candidato representa e apresenta apenas o interesse de um grupo ou partido ou se pretende, com projetos, promover políticas que beneficiam a todos. O bom governante governa para todos e não faz campanha com dinheiro de empresas na TROCA DE FAVORES, nem se propõe a comprar seu voto.
2 – Se os candidatos têm “ficha limpa”, sem processo judicial, e que não estejam na lista da “Lava-Jato” ou de alguma outra operação policial, especialmente de ofensa à “coisa” pública. O HOMEM PÚBLICO DEVE TER HONESTIDADE (idoneidade moral), ser coerente em sua postura e não mudar frequentemente de partido.
3 – VOTAR NÃO PARA AGRADAR ALGUÉM, mas em pessoas que possam representar você na utilização do seu dinheiro na educação, saúde, criação de empregos, promoção humana e social. Devemos tomar muito cuidado com os arrogantes, populistas, demagogos e bajuladores, os quais não inspiram confiança.
(cf. CNBB, Sul 2. (2018). Cartilha de Orientação Política. Os cristãos e as eleições, 2018. e CNBB – Doc. 91, 2010)
Por isso, queiramos ou não, precisamos da política. Ela faz parte da nossa vida. É irracional pensarmos que, para derrotar a crise política, basta estarmos contra alguém, ou à espera de um “salvador da pátria”, ou ainda negar a sua existência, que é pior ainda. Afinal, o que teríamos em comum para modificar? Não estaremos agindo contra um inimigo, mas por um bem comum maior, desejado e perseguido.
Sabemos que poucos candidatos terão os atributos anteriormente elencados, mas busquemos votar naqueles que mais se aproximarem do ideal cristão e que estimulem, durante o mandato, suas qualidades para diminuir suas limitações.
Cada um de nós é corresponsável pelos destinos de nossa cidade, de nosso Estado, de nosso País.
Concluo essa minha pequena reflexão com as tão eloquentes palavras do Papa Francisco: “Há necessidade de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático, que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e reconciliação.”
(Mensagem vídeo do papa Francisco aos participantes no encontro de políticos católicos organizado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e pela Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL), 03/12/2017).