Suicídio (do latim sui, “próprio”, e caedere, “matar”) é o ato intencional de matar a si mesmo. Segundo o CVV (Centro de Valorização da Vida) de São Paulo, no Brasil, cinco de cada 100 mil brasileiros, com idade entre 15 e 24 anos, cometem suicídio. Segundo o psicólogo Dr. Matthew Nock, da Universidade de Harvard, “a maioria das pessoas que cometem suicídio tem algum transtorno mental”. Dentro estes as principais causas de suicídio são: depressão profunda, dependência de drogas, transtorno bipolar, anorexia, esquizofrenia, isolamento, baixo autoestima, transtorno de personalidade, devendo muito dinheiro e “bullying” etc. O acesso à arma de fogo aumenta o risco de suicídio em pessoas emocionalmente fragilizadas. Também, há grupos de risco entre os quais podemos citar: homossexuais, bissexuais e transexuais. Eles correm risco porque são estigmatizados injustamente na família, na escola, no trabalho e até na rua. Os transtornos das famílias envolvidas são terríveis.
Pessoas católicas e de outras religiões perguntam: “Quando alguém se suicida, ele se salva?”. Antigamente a Igreja Católica, sem a ajuda da psicologia pastoral para a compreensão dessa atitude, aplicou várias sanções para o suicida, como a negação da sepultura eclesiástica, da celebração da missa e orações pela sua alma. Hoje, ajudada pela psicologia pastoral e psiquiatria, a Igreja Católica já vê casos de suicídio sob outra forma e tem grande compreensão, respeito e misericórdia para com aqueles que chegam a tal ponto. Agora há sepultamento em cemitérios cristãos, orações e missa pela alma do suicida.
Sem negar que o suicídio é contrário ao amor do Deus vivo e aos seus mandamentos (Não matarás) levamos em consideração a vontade salvifica e a infinita misericórdia de Deus manifestada em Jesus que disse: “Eu vim para que todos tenham vida”: “Aqueles que o Pai me deu, eu não perca nenhum”, e “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Entramos no mistério da vontade de Deus que quer salvar a todos. Também não devemos julgar alguém nestes casos; isto não nos compete: “Não julguem, para não serem julgados. Pois vocês serão julgados com o julgamento com que julgarem, e serão medidos com a medida com que medirem” (Mt 7, 1 -3).
Recusando celebrar uma missa, oferecer orações e negar um sepultamento cristão para uma pessoa, significa que estamos fazendo um julgamento que somente Deus tem o direito de fazer. A psicologia pastoral e a psiquiatria nos ensinam que ninguém conscientemente vai tirar sua própria vida. Se o faz, com certeza não está mais consciente do que faz, mesmo deixando recados explicando suas razões. A vida é de um valor tão absoluto que repugna ao próprio ser humano perdê-la. Lutamos diariamente pela saúde, para evitar acidentes e alongar a vida. Porém, hoje, há entre pessoas idosas o medo do processo de morrer. Elas estão com medo de se tornarem prisioneiras da tecnologia médica nas UTIs. Temem pela dor e sofrimento intolerável, perdendo controle de suas funções corporais, ou morrendo à míngua com demência severa ou Alzheimer. Também se preocupam com a possibilidade de serem abandonadas e se tornarem um peso para outros. Aí, elas pensam sobre o suicídio como solução rápida. Nossa sociedade será julgada eticamente pela forma como responderá a esses medos.
O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Distúrbios psíquicos graves, a angústia ou o medo grave da provação, do sofrimento ou da tortura podem diminuir a responsabilidade do suicida. Não se deve desesperar da salvação das pessoas que se mataram. Deus pode, por caminhos que só Ele conhece dar-lhes ocasião de um arrependimento salutar. A Igreja ora pelas pessoas que atentaram contra a própria vida” (CIC. 2282/3). Aos familiares que vivem o drama pela perda de um membro nessa forma traumatizante, não devem se culpar pelo suicídio, mas podem e devem confiar na infinita bondade e a misericórdia de Deus.
Pe. Brendan Coleman Mc Donald
Redentorista e Assessor da CNBB reg. NE1